Comunidade do Tejuco em Brumadinho recebe visita de assessores parlamentares
Certificação enquanto Comunidade de Povos Tradicionais foi um dos temas discutidos na visita. O encontro foi pedido pelos membros da Associação Ecológica em Defesa da Serra dos Três Irmãos, do Tejuco.


No dia de ontem (9), representantes de deputadas/os estaduais e federal de Minas Gerais se reuniram no Tejuco, em Brumadinho, a pedido de algumas lideranças, para conhecimento territorial e diálogo sobre pautas da comunidade.
O objetivo principal do encontro foi discutir a importância histórica e tradicional da comunidade, que vem sofrendo impactos e ameaças com o avanço da mineração, e danos relacionados ao meio-ambiente e à água, decorrentes da atividade minerária e rompimento da barragem da Vale S.A.
Além das lideranças da Associação Ecológica em Defesa da Serra dos Três Irmãos, estiveram presentes as/os assessoras/es parlamentares Amanda Medeiros e Ailton Matias, do gabinete da Deputada Estadual Bella Gonçalves; Fernando Rangel, do gabinete do Deputado Estadual Leleco Pimentel e do Deputado Federal Padre João; Aelton Lucas e Denis Araújo, representantes da Deputada Estadual Andréia de Jesus; e Luiz Filippe Campos e Sebastião Farinhada, representantes do Deputado Estadual Betão.
A Aedas Paraopeba acompanhou toda a programação de atividades que contou com:
- Roda de apresentação e conversa sobre certificação da comunidade enquanto Comunidade de Povos Tradicionais;
- Conversa com dona Romilda do Carmo, moradora idosa da comunidade, para contribuir com o resgate histórico do Tejuco a partir da oralidade;
- Visitas em locais históricos da comunidade e em locais atingidos pela mineração (nascente, estrada da Vale, portaria da Mina Córrego do Feijão);
- Reunião para discussão de medidas jurídico-políticas relacionadas ao avanço da mineração, ao TAC Água e a reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, pertencente a Vale S.A.
A comunidade

A comunidade do Tejuco, que fica localizada na Zona Quente e está a 8 km do centro de Brumadinho, tem cerca de 700 famílias, majoritariamente negra [cerca de 80%] nascidas e criadas na comunidade, segundo a Associação.
Os moradores vêm sofrendo com o avanço da mineração que, segundo registros, iniciou em meados da década de 1940.
Para Marco Antônio, liderança e membro da comunidade, “a mineração começou como um pequeno empreendimento, provocando danos e ampliando. Uma das estratégias que a mineração usa é fazer o apagamento da história, trabalhando com a ideia de progresso, deslegitimando nosso passado ancestral. Nesse momento [reunião da parte da manhã] vamos dialogar sobre a questão da ancestralidade quilombola e da história do Tejuco, para depois ouvir as pessoas mais idosas para conseguir registrar e ter noção da história e formação da comunidade”.


Maria de Fátima, conhecida como Zizinha, moradora e liderança, denunciou que “as mineradoras invadiram nossa comunidade [a comunidade é cercada por três mineradoras, Tejucana, Vale S.A e Mineral do Brasil] e não quis nem saber dos danos”.
Segundo relato dos membros da Associação, o Tejuco começou em um local conhecido como Quilombo Doce, aproximadamente há 300 anos, que ficava entre o Tejuco e a comunidade de Monte Cristo (Córrego do Barro).
Elida Franco, técnica da equipe dos Povos e Comunidades Tradicionais da Aedas, reforçou que a questão da história oral é importante para o autorreconhecimento da comunidade enquanto tradicional quilombola, ouvir as histórias dos mais velhos sobre os costumes e tradições é de grande importância para contribuir nesse autorreconhecimento.
Danos causados pela mineração


Desde o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em 25 de janeiro de 2019, a comunidade do Tejuco sofre com danos relacionados à água. A comunidade, que historicamente tinha autonomia hídrica, teve suas nascentes contaminadas e o local passou a ser abastecido por caminhões-pipa.
Para solucionar o problema da comunidade, um acordo foi firmado sem a presença dos moradores entre a Vale S.A, Prefeitura de Brumadinho, Ministério Público de Minas Gerais (MPGMG), Defensoria Pública e Copasa, assinando um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), no qual planejam a perfuração de poços artesianos feitos pela Vale S.A no Monte Cristo, para posteriormente entregar à Copasa para gestão e abastecimento do Tejuco.
A reivindicação da Associação Ecológica em Defesa da Serra dos Três Irmãos é pela volta da soberania hídrica com gestão comunitária, e que a mineradora recupere o que ela danificou [nascentes e rede de distribuição].
Encaminhamento da Reunião

Como encaminhamento do encontro, ficou definido uma nova visita dos representantes parlamentares na comunidade Tejuco; uma Audiência Pública na Comissão dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais para tratar do acesso à água e as ameaças causadas pela mineração; uma Audiência Pública na Comissão de Acompanhamento do Acordo de Reparação no Congresso Nacional e o envio de Ofícios e acionamentos relacionados aos processos de licenciamento de mineração na região.
Outras fotos da visita dos assessores parlamentares no Tejuco:




Texto e fotografia: Felipe Cunha | Aedas