Encontros dos Coletivos de Saúde e Meio Ambiente reúnem agentes multiplicadores em Brumadinho e Betim
Agentes multiplicadores debatem pautas relacionadas à saúde e meio ambiente, como o estudo conduzido pelo Grupo EPA, estudo das superbactérias, entre outros

Atingidos das comunidades da Região 2 no encontro do Coletivo Saúde e Meio Ambiente
Na manhã do dia 1 de julho, Agentes Multiplicadores das Regiões 1 e 2 da Bacia do Paraopeba e Lago de Três Marias se reuniram no município de Brumadinho e Betim para a retomada das reuniões dos Coletivos Saúde e Meio Ambiente.
O diálogo entre as pessoas atingidas, equipes técnicas e coordenações das equipes Socioambiental (SAM), Saúde (SAU) e Economia Trabalho e Renda (ETR) da Aedas foi em torno dos Estudos de Avaliação de Risco à Saúde Humana e Risco Ecológico – ERSHRE, executado pelo grupo EPA, empresa contratada com recurso da mineradora Vale S.A e que está confirmada continuidade no Acordo Judicial firmado entre os Compromitentes e a mineradora.
O Acordo Judicial de fevereiro reafirma a continuidade da realização do estudo na cláusula 3.8, que diz que “Será dada continuidade aos Estudos de Risco à Saúde Humana e Risco Ecológico (ERSHRE), contratados e custeados pela Vale, e auditados nos termos do Termo de Compromisso firmado pelo Ministério Público de Minas Gerais e pela Vale, em 15 de fevereiro de 2019 (Inquérito Civil nº MPMG 0090.16.000311-8), obedecendo às normas, diretrizes, indicadores e metodologia já aprovadas pelo Ministério da Saúde e demais órgãos públicos competentes.”
Para Lineu Ribeiro, coordenador da equipe de Socioambiental da Região 2 da Aedas, “atualmente, esses estudos estão na primeira fase aqui nas regiões 1 e 2. Essa primeira fase diz respeito ao levantamento das preocupações das comunidades com a sua saúde. Para além desse estudo que é feito no âmbito da reparação, os atingidos e atingidas também têm outras demandas específicas nos territórios. Dentro do Coletivo Saúde Meio Ambiente, nós também discutimos outras questões que vão para além, especificamente, dos estudos em si e que são discussões de interesse da população.”
Alguns questionamentos foram apontados pelos agentes multiplicadores no espaço, entre eles, a falta de informação da execução do estudo do grupo EPA para as comissões de atingidos, uma série de problemas na condução dos estudos, a falta de participação de pessoas indicadas para realização do estudo, falta de informação sobre as atividades realizadas nas comunidades e falta de retorno para as próximas fases.
Também foi debatido no espaço o retorno, por parte dos Compromitentes, com pareceres do Sistema Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SISEMA) e da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES), do ofício enviado pela Aedas através de encaminhamentos realizados pelo Coletivo Saúde e Meio Ambiente referente ao estudo das superbactérias, realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Após o debate em reunião realizada no dia 19 de janeiro, atendendo a solicitação do Coletivo Saúde e Meio ambiente, a Aedas enviou o ofício OF0002/2023 sobre o estudo das superbactérias contendo questionamentos e preocupações das pessoas atingidas. Esse ofício foi encaminhado para diversos setores públicos a nível municipal, estadual e federal, além do Ministério Público e da Defensoria Pública do Estado apresentando as preocupações e reivindicações da população atingida.
A Aedas segue dialogando acerca das possibilidades para o encaminhamento da demanda da população sobre o estudo das bactérias resistentes à antibióticos.

Os espaços de diálogo sobre os temas de saúde e meio ambiente estão relacionados com os danos causados do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão e, através do coletivo dos Agentes Multiplicadores, a Aedas constrói, junto aos atingidos e atingidas, incidências no processo da reparação integral no campo socioambiental.
Maria Aparecida, conhecida como Paré, moradora do Tejuco, comunidade de Brumadinho, diz que “o Acordo de Reparação no Campo da Saúde e Meio Ambiente só entra dinheiro e não tá tendo retorno.”
Valéria Antônia Carneiro, do Assentamento Pastorinhas, de Brumadinho, reforça que “no campo social e no campo da saúde, o Acordo não teve consulta à população como uma ação primordial. Você fecha acordo sem ouvir a população? Já sobre a questão do grupo EPA, a metodologia usada não condiz com a realidade dos territórios afetados” e complementa “A pauta principal da saúde é criar o lastro entre o rompimento e os danos da saúde. Quando você chega na porta de entrada do SUS, que se identifique os sintomas que estamos como provenientes do rompimento, e não ser detectado como virose, possível intoxicação alimentar. Então, a demanda é a vigilância de saúde começar notificar esses casos e acompanhar de perto esses danos juntos à comunidade, porque se não você vai ficar tendo uma ingestão imensa de medicamento que não vai resolver seu dano. Por exemplo, tem aparecido várias dermatites em ruas com cinco ou dez pessoas com mesmo problema, sendo até tratados como sarna e mandando o pessoal tomar Ivermectina.”
Para Walter Matias, de Juatuba, “4 anos depois do rompimento, até agora não temos atenção devida à saúde dos atingidos, está constatado a contaminação de metais pesados, a superbactéria identificada pelo estudo da UFRJ e não temos respostas efetivas em relação ao estado, de fato, da saúde das pessoas atingidas. E no processo de saúde mental não temos atendimento específico para atender essa demanda.”
Wilivis Lemos, da comunidade da Colônia Santa Isabel, na região da Citrolândia, Betim, reforça: “Precisamos de um protocolo específico para a gente, atingidos! Estamos sendo atingidos frequentemente desde o rompimento. O curso do rio agrava, há desequilíbrio da fauna e flora, isso tudo agrava nossa saúde física e mental. Precisamos de um protocolo específico por isso. O que a gente pode tá passando por algo parecido com dengue, não é dengue, por exemplo, não sabemos.”
Durante as reuniões dos coletivos, a equipe da Aedas faz discussões técnicas e ouve as preocupações das pessoas atingidas com relação a execução e resultados dos estudos que envolvem a saúde e o meio ambiente.
Nas reuniões, são encaminhadas “solicitações de ações para que esses danos identificados sejam endereçados, para que tenha algum tipo de ação pelas empresas e com auxílio das Instituições de Justiça (IJs), das Assessorias Técnicas Independentes (ATIs), dos municípios e do Estado, para garantir que a população tenha a sua qualidade no meio ambiente e na saúde minimamente garantido” declara Lineu.
Ciranda








Durante o encontro, ocorreu a Ciranda. No espaço, conduzido pela equipe de Pedagogia da Aedas, é possível trabalhar o lúdico e envolver as crianças no processo de sistematização dos danos causados pelo rompimento da barragem, possibilitando também uma melhor participação das mães, pais e responsáveis nos espaços de discussão construídos pelos atingidos e atingidas com a Aedas.
Em meio a essa atividade do dia 1 de julho, foi possível observar que a cada Ciranda, as crianças e adolescentes vêm tomando mais consciência crítica dos processos que atravessam suas vidas, ocupando um lugar de agentes protagonistas que lhes é de direito, como crianças e adolescentes atingidos que são, recebendo dessa forma, no espaço apropriado e com o corpo de profissionais necessário, a devida atenção nas etapas de questionamento, entendimento, troca e sistematização dos danos que os atravessam.
Veja fotos do encontro:











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Texto e foto: Felipe Cunha | Aedas