Caso Samarco: mais de 700 pessoas atingidas participam de ato na Arena Mariana após 09 anos do rompimento de Fundão
A plenária publica foi organizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)

Mais de 700 pessoas atingidas pelo rompimento da barragem de Fundão se reuniram na Arena Mariana, em Mariana (MG), em uma plenária pública organizada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), na manhã desta terça-feira (05). O encontro marcou os nove anos do desastre-crime, de responsabilidade das empresas Samarco, Vale e BHP Billiton, que devastou o Rio Doce e deixou danos profundos ao longo da bacia do rio Doce.
Representantes dos territórios atingidos de toda a bacia do Rio Doce estiveram presentes, ao lado de membros de instituições de justiça e movimentos sociais, para debater a repactuação do Acordo de Mariana e reafirmar a luta por uma reparação justa e integral. A plenária foi marcada por falas e desabafos das pessoas atingidas da bacia e litoral norte capixaba contra a exclusão das pessoas atingidas das discussões sobre a repactuação e pela denúncia de que o novo acordo não atende às demandas essenciais para a reparação dos danos causados.
Para Joceli Andrioli, coordenador nacional do MAB,o novo acordo de Mariana é ‘insuficiente para a reparação integral’. “Se formos fazer uma comparação com Itatiaiuçu, o acordo teria que passar dos 800 bilhões de reais”, destacou. Ele reforçou que é responsabilidade do Estado garantir a reparação completa às vítimas. “Quando os 100 bilhões acabarem, como fica? Temos 20 anos para acumular força e o Estado pagar a conta que deve aos atingidos.”, finalizou.

O produtor rural de Conselheiro Pena, Miguelito Teixeira de Sousa, denunciou que após quase dez anos ainda há rejeito da mineração nas margens do rio Doce e seus afluentes. “O rejeito ainda está nas margens, são 9 anos nesta luta. Nós aprendemos muito, conseguimos criar nossas associações. É o momento de parar, refletir e juntar as forças para as lutas que estão por vir. Precisamos dessa luta, dessa união”, afirmou.
Neli de Fátima Emídio, atingida de Ipaba, desabafou sobre o fim do sistema de governança após ampla mobilização das pessoas atingidas da bacia do rio Doce e do litoral capixaba. “Jogaram mais um balde de água gelada nos nossos projetos, nos nossos sonhos. Tudo por ganância. Será que nunca se cansam de acumular dinheiro? Será que não sentem vergonha de agir assim? Nos levaram para um lugar exuberante, um hotel de luxo como nunca tinha visto antes. Um hotel que, para eu poder ficar, precisaria economizar 20 anos de trabalho. É um faz de conta que não dá mais para engolir. Eles acham que somos bobos, mas de bobos, só temos a cara e o penteado”, desabafou.
Bella Gonçalves, deputada estadual de Minas Gerais, também esteve presente na plenária e demonstrou esperança sobre a petição apresentada pelo MAB ao Supremo Tribunal Federal (STF). “Há leis que foram desrespeitadas por esse acordo. Não há solução sem a população atingida. Quem vai recuperar o rio, a terra, os laços familiares, são vocês. Não existe luta organizada sem a participação do povo atingido”, declarou, reforçando a necessidade da participação popular no processo de reparação.
A vereadora de Ipatinga, Cida Lima, enfatizou a importância da mobilização contínua. “É importante ver que nossa luta está dando efeito, é um passo importante que demos para a luta, mas que não temos o direito agora de parar, de cansar no meio do caminho. Nós precisamos estar agora na luta para continuar”, afirmou.
A plenária serviu não apenas como um espaço de protesto e reivindicação, mas também de esperança e união. As pessoas atingidas reafirmaram ao longo da plenária a necessidade de uma reparação justa e a luta por justiça e reparação integral.
Texto: Equipe de Comunicação Programa Médio Rio Doce da Aedas