Documento também aponta para a criação de um sistema de participação que fortaleça as decisões e a fiscalização da população atingida nas medidas de reparação.
Mística de finalização do encontro distribuiu sementes e laços entre os atingidos de toda a bacia. Foto; Aleff Rodrigues

Nos dias 11 e 12 de junho, mais de 150 atingidos estiveram presentes no Encontro de Atingidas e Atingidos da Bacia do Paraopeba e Lago de Três Marias. Além de Brumadinho, outras comunidades dos 26 municípios, atingidos pelo rompimento da barragem da Vale S.A no dia 25 de janeiro de 2019, participaram do encontro.

No domingo (12), o encontro iniciou com 1 minuto de silêncio em homenagem às 272 vítimas fatais do rompimento e foi finalizado com o lançamento de um Carta Pública para toda a sociedade. A atividade ocorreu em Belo Horizonte. Clique aqui e veja a programação do sábado (11).

Participaram do encontro grupos sociais como os:

– familiares de vítimas fatais (AVABRUM),
– Grupo Participa Paraopeba,
– povo indígena Kaxixó,
– quilombolas,
– povos e comunidades tradicionais de religião ancestral de matriz africana (PCTRAMA),
– pescadoras e pescadores,
– ribeirinhas e ribeirinhos,
– integrantes das comissões de atingidos e atingidas e seus grupos sociais organizados,
– movimentos que lutam pelos direitos humanos (RENSER), de atingidos por barragens (MAB), atingidos pela mineração (MAM), sem-terra (MST).

A carta pública dos atingidos e atingidas de todas as cinco regiões da bacia do Paraopeba e foi construída com o apoio das assessorias técnicas independentes.

Acesse a Carta Aberta clicando no link abaixo:

Carta exige punição da Vale

O documento se solidariza com as famílias e amigos de todas as 272 vidas perdidas com o rompimento. As vítimas das enchentes de janeiro de 2022 também foram lembradas no documento.

“Repudiamos a lógica da morte da Vale S/A e do sistema da minério dependência, que faz vítimas no Paraopeba, no Rio Doce e em todo o Brasil, e, afirmamos que a vida precisa estar acima do lucro. Exigimos a punição efetiva da Vale S/A, da Tüv Süd e de todas as empresas e pessoas que colocaram e colocam o lucro acima da vida”, aponta a carta.

O recurso é nosso, as propostas são nossas, participação em tudo

A carta reforça três pontos importantes. Veja trecho do documento:

O RECURSO É NOSSO: Queremos ser protagonistas em todas as decisões de gestão do anexo I.1!

É nosso direito estar em todos os espaços de decisão que definam os projetos e programas de crédito e microcrédito, assim como definindo os critérios de candidatura e escolhendo a entidade gestora que deve obedecer regras de funcionamento criadas por nós.

Queremos uma entidade que transforme esse recurso na melhoria das nossas comunidades, na recuperação da renda do povo, no retorno do lazer e vivência comunitária, na restauração e desenvolvimento do acesso à educação, cultura, saúde, transporte e outros.

“Queremos construir programas e projetos das comunidades atingidas que reparem os danos que atravessam as nossas vidas e territórios”


AS PROPOSTAS SÃO NOSSAS

A construção do Plano Participativo de Reparação e Desenvolvimento do Anexo I.1 será norteada pelo mapeamento de danos construídos por nós com as assessorias técnicas, considerando as desigualdades históricas e as populações mais vulneráveis nesses territórios.

É um retrato do que queremos reparar e desenvolver que vai definir quais os projetos e linhas de microcrédito devem ser feitas, suas formas de execução, e objetivos do plano participativo de reparação e desenvolvimento.

Exigimos também que esse processo tenha uma agilidade compatível com a participação das pessoas atingidas garantindo rapidez e atendimento às demandas da população.


“O tempo passa, o sofrimento aumenta”


PARTICIPAÇÃO EM TUDO

 Queremos construir um sistema de participação da Bacia para que nós possamos ter protagonismo nas decisões e na fiscalização das medidas que vão garantir a justiça, o desenvolvimento e a recuperação das nossas vidas, dos nossos rios e águas, dos nossos peixes e demais animais, das nossas matas e do nosso chão. Nossa participação precisa acontecer em todo o processo de recuperação socioambiental, na implementação do Programa de Transferência de Renda de forma justa e inclusiva, na efetivação das propostas dos projetos para a Bacia, na Matriz de Danos e Reconhecimento e nos critérios das indenizações individuais integrais.