Assembleia popular debate identidade quilombola da Comunidade Sanhudo, no Tejuco, em Brumadinho
Território tradicional foi certificado recentemente pela Fundação Palmares.

Moradores atingidos da comunidade do Tejuco, em Brumadinho, participaram, na noite desta quarta-feira (6), de uma assembleia geral. O encontro ocorreu na sala paroquial ao lado da igreja matriz e teve o objetivo de debater aspectos relacionados à identidade quilombola da Comunidade Sanhudo, o processo de autodeclaração/certificação de territórios e sanar dúvidas.
Em um primeiro momento, os atingidos e atingidas assistiram à vídeo-carta, produzida pela Aedas, da dona Maria Matuzinha, do Quilombo Rodrigues, também em Brumadinho, em uma reflexão sobre a lida com a terra, a relação com o território e sua história.
O vídeo introduziu a conversa sobre a identidade quilombola da Comunidade Sanhudo. A reunião foi conduzida por Evandro França de Paula, o Vandeco, liderança quilombola, e pelo advogado e liderança Marco Antônio Cardoso.
Vandeco definiu o momento de compartilhamento de informações como exemplo para que as pessoas se conscientizem sobre os direitos que tem e para que as comunidades compreendam que “a luta coletiva dá resultados” e convidou os presentes a se engajarem no diálogo com as pessoas que ainda não acompanham de perto.


O Quilombo Sanhudo foi certificado recentemente pela Fundação Cultural Palmares como território quilombola, de acordo com a portaria FCP N15, de 16 de janeiro de 2024, processo administrativo, nº 01420102896/2023-87, sendo-lhe intrínseca a gestão e o uso do seu território conforme a manutenção do seu modo de vida tradicional.
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A Fundação Palmares trabalha para reconhecer origens, ampliar direitos e facilitar o acesso das comunidades quilombolas às políticas públicas, sendo responsável pela certificação de quilombos, participação do licenciamento de obras de infraestrutura e estimulando a cultura afro-brasileira.
A certificação da Comunidade Sanhudo como quilombola se estabelece como reconhecimento pela história, memórias e limitação de direitos de centenas de anos, se estabelece como um importante parâmetro para a atual realidade do território, atingido pela atividade das mineradoras.
Beatriz Borges, da coordenação da equipe de PCT da Aedas destacou o momento de apropriação de informações como fundamental para agora e para novas conquistas.
“Muitas vezes a gente, as pessoas, não querem se reconhecer enquanto quilombola, por causa dos estigmas que vem, que atravessam. A gente tem que reverter esse papel. Agora a gente tem que colocar enquanto algo que é muito bom e propositivo para a comunidade”, disse Beatriz.



Na sequência da programação da Assembleia, o debate avançou para temas como o patrimônio cultural e histórico das comunidades como forma de proteção do território, o direito à autodeclaração e certificação específica da família Sanhudo e a Consulta Livre Prévia e Informada e os empreendimentos mineradores.
Um texto produzido pela equipe de Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs) da Aedas explica o que é autoidentificação, certificação de autoidentificação e titulação de terras de Povos e Comunidades Tradicionais.
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Atingidos e atingidas apresentaram questionamentos sobre os temas da assembleia. As principais dúvidas ficaram em torno do direito à propriedade, autodeclaração, benefícios a partir de possíveis certificações e formas de mobilização popular para que as comunidades se informem, se organizem e busquem seus direitos.
As questões foram respondidas pelo advogado Marco Antônio Cardoso, Vandeco e apoio de Beatriz Borges, da Aedas. Marquinho frisou que a certificação da Comunidade Quilombola Sanhudo não tem repercussão geral, ou seja, a certificação diz respeito a Sanhudo e que para outros territórios o processo de autodeclaração comunitária demanda diálogo, consenso e organização de cada comunidade que pretende o reconhecimento.
Beatriz reafirmou o compromisso da Aedas em seguir acompanhando de perto os diálogos das comunidades e de auxiliá-las com informações e apoio técnico no que diz respeito à autodeclaração, certificação e titulação de terras de Povos e Comunidades Tradicionais.
