Mais de 200 agentes multiplicadores de Brumadinho e de municípios da região 2 se reuniram no sábado (22) e quarta-feira (26) para debater sobre o Sistema de Participação da Bacia do Paraopeba e Lago de Três Marias.  
Espaço participativo na ACOPAPA, em Brumadinho. Foto: Rurian Valentino.

No sábado (22) e na quarta-feira (26), lideranças das Regiões 1 e 2 participaram de mais uma rodada de formação para Agentes Multiplicadores (AGMs). As atividades tiveram como objetivo proporcionar a participação das pessoas atingidas para a organização e entendimento do Sistema de Participação. Apesar de não ter poder deliberativo, são os e as AGMs que promovem, em seus territórios e comunidades, as informações sobre o processo de reparação e suas nuances. 

“O sistema de participação tem por objetivo garantir exatamente que todos os atingidos estejam protagonizando o processo da reparação integral de forma organizada e com fluxos que permitam que as comunidades saibam o que está sendo debatido inclusive ao nível de Bacia”, explicou Saritha Vattathara, coordenadora de Mobilização em Brumadinho. 

Espaço AGM na Escola Municipal Frei Edgard Groot no bairro Vila Nova em Betim. Foto: Valmir Macêdo
Participação 

Em Brumadinho, três espaços participativos foram organizados: Na sede, o espaço contou com 11 participantes de 08 comunidades, na ACOPAPA, sede da associação de moradores, participaram cerca de 40 adultos e 11 crianças de 22 comunidades e em Toca de Cima, 26 adultos e 3 crianças participaram de 12 comunidades. Houve participação de comunidades de todos os distritos do município garantindo assim muitas trocas interações e diálogos sobre o tema do encontro que foi a retomada da construção do sistema de participação.   

Na Região 2, mais de 120 pessoas atingidas se reuniram em três turmas de agentes multiplicadores. Uma foi realizada na Escola Municipal Frei Edgard Groot no bairro Vila Nova em Betim, que contou com a participação de 55 adultos e 12 crianças. A atividade em Betim também recebeu pessoas atingidas de Mário Campos. Uma segunda turma reuniu 40 adultos e 14 crianças no Sítio Recanto do Brejo, em Igarapé que também recebeu agentes multiplicadores de Juatuba e São Joaquim de Bicas. Já a terceira turma, ocorreu em Mário Campos, contando com cerca de 30 participantes e 5 crianças.

Diálogo entre toda a Bacia 

Durante a formação, diversas lideranças reforçaram a falta de um espaço em que as pessoas atingidas possam dialogar como Bacia do Paraopeba para tentar contrapor esse contexto em que as pessoas atingidas não conseguem participar das decisões que farão muita diferença em suas vidas.   

“A gente não pode ser escravizado por uma atividade que deveria nos trazer possibilidade de vida melhor”

Schirlene Gerdiken, Aranha, Brumadinho.

“A gente tem que se organizar melhor porque os danos são muitos, mas ainda vão vir muitos outros ainda. Então a gente tem que é lutar porque a gente sabe que a nossa região é uma região minério dependente, mas a gente não pode ser escravizado por uma atividade que deveria nos trazer possibilidade de vida melhor. Eu acho que tem que haver um equilíbrio para um direito não sobrepor o outro”, destacou a moradora da Comunidade de Aranha, Schirlene Gerdiken.   

Grupo discute eixo da Participação durante espaço AGM em Betim. Foto: Valmir Macêdo

Para Adilson Ramos, da comunidade reta do Jacaré, a organização das pessoas atingidas em nível regional e inter-regional (Bacia do Paraopeba) também fortalece a busca por respostas mais rápidas.  

“Trocando informações, a gente consegue entender melhor a situação do outro e maneiras diferentes de resolver os nossos problemas. Então a gente, em contato com as outras comunidades que também sentem os mesmos problemas do rompimento, consegue alinhar as situações e as decisões para que a nossa reparação venha mais rápido”, reforçou o atingido de Mário Campos. 

Participação efetiva e inclusiva 

O sistema de participação pretende fortalecer a organização das pessoas atingidas sendo um instrumento plural e permanente, com o objetivo de informar e garantir uma participação democrática, efetiva e inclusiva. 

“A grande esperança é que esse sistema de participação consiga dar voz àqueles que não têm”

Wilma Sueli, PCTRAMA, Francelinos.
Wilma Sueli, da comunidade Francelinos, em Juatuba. Foto: Valmir Macêdo

“A grande esperança é que esse sistema de participação consiga dar voz àqueles que não têm. Que a gente consiga implementar essa democracia tão sonhada por nós. Que todo mundo esteja incluído, que todo mundo se enxergue dentro desse sistema e que a gente consiga ombrear com nosso companheiro, nossa companheira de luta, para a gente enfrentar e conseguir nossos direitos. Então é uma esperança de mundo melhor. Esse mundo é possível e a gente tem que construir”, contou Wilma Sueli, que faz parte dos Povos e Comunidades de Tradição Religiosa Ancestral de Matriz Africana (PCTRAMA).  

Um dos pontos do Sistema de Participação é garantir a paridade entre as pessoas atingidas, permitindo a participação de grupos prioritários nesse processo, como mulheres, PcDs (pessoas com deficiência), idosos, Povos e Comunidades Tradicionais, entre outros, em todas as instâncias.  

“Não é porque a gente é deficiente que a gente é incapaz”

Adriana Nunes, São Salvador 2, Betim.

 “Não é porque a gente é deficiente que a gente é incapaz. Nós estamos vivendo o acidente da Vale, como todas as outras dificuldades. Então nós temos direito de participar, de opinar, falar o que a gente acha. Eu acho muito importante abrir esse espaço para a gente participar e ao mesmo tempo reivindicar o que a gente acha correto”, contou Adriana Nunes, da comunidade de São Salvador, na região 2.  

Crianças durante Ciranda em Brumadinho. Foto: Rurian Valentino.
 Ciranda: Construção pelos olhos das crianças 

Nas formações com os agentes multiplicadores, a Ciranda realizou um espaço recreativo em que as crianças produziram maquetes. Com o tema “Rua Todo Mundo Feliz”, as maquetes trouxeram o que as crianças têm de propostas para a construção de uma rua e como elas imaginam esse espaço.  

As maquetes produzidas trouxeram casas, campos de futebol, balanços e bonecos, mostrando que essa rua é feita para e pelas pessoas.  

Crianças durante Ciranda em Brumadinho. Foto: Rurian Valentino.

Laura Silva, de 7 anos, da comunidade de Colônia de Santa Isabel, em Betim, contou que gostou muito da atividade. “Muito legal. Aqui eu adorei fazer. A piscina as casinhas, o campo, as lojinhas, os carros, as ‘gentes’, os matos, as gramas, na verdade”, disse ela apontando para a maquete.  

Valentina Vitória, de 5 anos, apontou que na “Rua Todo Mundo Feliz” tem que ter diversão. “O balanço e a cor azul é a minha preferida”, contou ela, também mostrando a maquete feita durante o espaço. 

Valentina e e Laura, após atividade da Ciranda em Betim. Foto: Valmir Macêdo

Texto: Jaqueline Santos e Valmir Macêdo