Reuniões envolveram comunidades dos municípios de Betim, Juatuba, Igarapé, Mário Campos, São Joaquim de Bicas e Brumadinho 

Reunião Intercomunitária em Juatuba | Foto: Felipe Cunha – Aedas

As comunidades atingidas dos municípios que formam as Regiões 1 e 2 participaram das Reuniões Intercomunitárias para debater a lista prévia de danos coletivos causados pelo rompimento da barragem da Vale que atingiu toda a Bacia do Paraopeba e represa de Três Marias, e que podem ser base para reparação no Anexo I.1.  

As reuniões foram realizadas em Betim, Juatuba e Igarapé no dia 02 de fevereiro; em Mário Campos e São Joaquim de Bicas no dia 08 de fevereiro; e em Brumadinho nos dias 15 e 22 de fevereiro. 

Os encontros tiveram como objetivo conferir a lista prévia de danos coletivos construída no trabalho de diagnóstico participativo da Assessoria Técnica Independente (ATI) junto à população atingida e ouvir novas sugestões. Para o debate, foram usados o Caderno de Danos Coletivos e as Listas Prévias Regionais de Danos Coletivos, apresentados nas Visitas Técnicas no final do ano passado.  

A partir dos documentos, as lideranças que hoje compõe os agrupamentos locais, processo inicial dos conselhos locais da Governança do Anexo I.1, puderam conferir as informações e trazer contribuições para ajustes. 

Reunião Intercomunitária com quilombos de Brumadinho | Foto: Lucas Jerônimo – Aedas

De acordo com Ian Almeida, Gestor Operacional do Anexo I.1 na Aedas: “As reuniões Intercomunitárias são uma metodologia na qual pessoas de diversas comunidades atingidas se reúnem para discutir e deliberar sobre temas que lhes são pertinentes. A organização prévia de danos coletivos já foi apresentada às pessoas atingidas nas visitas técnicas no ano passado, e agora, as comunidades estão analisando esses danos coletivos por agrupamentos locais, conferindo se correspondem à realidade em seus territórios e/ou novas contribuições”. 

Reunião Intercomunitária em Brumadinho | Foto: Valmir Macêdo – Aedas

Em relação a construção do Caderno de Danos Coletivos e das Listas Prévias Regionais, segundo Ian, “desde o início da atuação da Aedas, foi adotada a metodologia do Diagnóstico Rápido Participativo e outras técnicas de Diagnóstico Participativo. Esse método incluiu, estudos por meio de consultorias especializadas, além de levantamentos junto aos grupos de atingidos e atingidas (GAAs), rodas de diálogo e espaços de reuniões de comissão, permitindo que as próprias pessoas atingidas compartilhem suas experiências e danos coletivos causados pelo rompimento”. 

A ATI também contratou consultorias especializadas para, em diálogo com as pessoas atingidas, aprofundar a compreensão dos danos coletivos nas diversas localidades atingidas pelo rompimento. Outra ferramenta utilizada para a construção do Caderno de Danos Coletivos foi o Registro Familiar, que permitiu coletar informações específicas durante o cadastro das famílias no banco de dados da Aedas. 

Reunião Intercomunitária em Brumadinho | Foto: Valmir Macêdo – Aedas

Juliana Funari, Coordenadora Geral do Anexo I.1, destaca a importância das Reuniões Intercomunitárias: “O espaço de hoje marca um momento importante no processo participativo de construção do diagnóstico. Aqui, está sendo apresentada uma parte fundamental dos resultados do Diagnóstico Participativo, que poderá servir de base para a reparação por meio do Anexo I.1. (projetos de demandas das comunidades atingidas e linhas de crédito e microcrédito). Construído desde 2020, o Diagnóstico Participativo é um instrumento essencial para as lutas das pessoas atingidas pela reparação integral. Ele foi elaborado de forma ampla, considerando as diferentes dimensões dos danos e suas naturezas jurídicas, para responder aos diversos caminhos possíveis da reparação”. 

Juliana também ressalta que, com base nos diferentes recursos e programas de reparação, tanto do Acordo quanto do processo judicial, o Diagnóstico permite análises técnicas dos dados, possibilitando a identificação dos danos que devem ser reparados por cada tipo específico de recurso. 

O que dizem as pessoas atingidas da Região 2? 

Foto: Felipe Cunha | Aedas

Mãe Kymazande, do Centro Espírita Mãe Maria Conga de Aruanda, localizado em São Joaquim de Bicas, avalia que o debate foi produtivo: “Acho que é muito importante para as pessoas acabarem de tirar dúvidas e complementar mais alguma coisa que falta [em relação a listagem prévia de danos]”, diz. Ela conta que sua comunidade foi muito atingida pela perda do rio. “Hoje nós não podemos ter nossa prática. Nós não podemos pegar ervas, nem usar a água do rio que a gente usava para tomar banho, para nossos rituais. Foi uma perda muito grande”, afirma. 

“Nós debatemos a questão dos danos ambientais, os danos à saúde, os danos às comunidades e os impactos do rompimento da barragem da Vale”, resume Natália de Freitas, atingida de Campo Verde no município de Mário Campos, que também participou das atividades.  

Segundo Alessandra Ferreira, atingida de Betim, da comunidade Vila Cruzeiro, o encontro permitiu que os atingidos analisassem os danos coletivos e ajustassem as informações para refletir melhor a realidade de cada comunidade. “Estamos fazendo uma revisão para identificar se alguma comunidade ficou de fora ou se alguma está associada a um dano que não se aplica”, explicou. 

Alessandra também destaca a importância da ATI nesse processo. “Sem a ajuda da Aedas, a comunidade sozinha não conseguiria se organizar dessa forma. Esses espaços são fundamentais para tirar dúvidas, aprender e fazer ajustes necessários”, afirmou. 

Terezinha dos Santos, também atingida de Betim, do Alto da Boa Vista, participou do encontro e reforça a importância do Caderno dos Danos Coletivos coletados pela Aedas. “Foram registrados muitos tipos de demandas e danos, abrangendo problemas de saúde, lazer e infraestrutura, por exemplo”. 

Para Terezinha, o apoio da ATI tem sido essencial no processo de reivindicação dos direitos dos atingidos. “Minha avaliação em relação à Aedas é nota 10. O pessoal da tem sido muito profissional e nos ajuda demais a organizar e fortalecer nossa luta”, concluiu. 

E o que dizem as pessoas atingidas na Região 1? 

Agrupamento 4 na comunidade Aranha, Brumadinho, na discussão do Caderno de Danos | Foto: Isis Oliveira – Aedas 

Nas Reuniões Intercomunitárias que aconteceram em Brumadinho (Rurais, Zona Quente e Sede) no dia 15 de fevereiro, João Carlos, ressalta a importância da inclusão. “Aqui na nossa comunidade existe um ponto turístico que é conduzido por pessoas do grupo LGBTQIAPN+.  Pelo fato de ter pessoas do grupo na nossa comunidade, a gente pediu a inclusão deles em todos os danos, em todas as categorias, para não deixar no esquecimento. A gente não quer deixar ninguém de fora”. 

Sônia Machado participou do espaço representando as comunidades de Grotas, Gomes, Taquaruçu, Casinhas e Massangano e avalia que os danos também estão passando por elas. “Embora a gente esteja afastado de onde aconteceu esse crime da Vale, a gente está sofrendo muitos danos ainda”, aponta. 

Valéria Carneiro, atingida de Brumadinho, acredita que os danos apontados serão úteis para as conquistas no território. “Eu acho que tem um peso se as IJs e os compromitentes forem validar esse documento. A gente está construindo algo sólido, robusto, com a vivência, a experiência de quem o sofreu os danos”. 

Rosemilda Fontes, também atingida de Brumadinho, destaca a importância da participação popular. “Que as pessoas que não tiveram a oportunidade e são de outras localidades do município participem. Afinal de contas, todos nós queremos a reparação integral, então a participação de todos é importante, é necessária”, aponta. 

Ciranda da Aedas 

Foto: Felipe Cunha – Aedas

Além dos grupos nos quais os adultos debatiam os danos, também aconteceram as atividades da Ciranda reunindo crianças e adolescentes. Jaddy Talyssa Rodrigues, de São Joaquim de Bicas, conta que conversaram sobre os diferentes danos e montaram cartas para um jogo criativo. “As carretas começaram a andar muito mais, levando poeira para dentro de casa. O rio foi contaminado, não podemos mais beber a água e nem comer as plantas porque estão contaminadas”, resume. 

Augusto Barbosa, criança atingida de Betim, destaca a importância da Ciranda da Aedas para as infâncias: “A Ciranda é um lugar onde a gente pode brincar e se divertir. Hoje mesmo teve um show de talentos!”, conta. Além das atividades recreativas, as crianças aprendem sobre os danos do desastre-crime da Vale. “Antes, o rio era limpo, dava para pescar. Mas, depois da barragem, não dá mais para pescar nem comer os peixes. Meu desejo é que todo mundo tenha muita saúde e que o rio volte a ser como antes. Nossos direitos são brincar, comer e sair”. 

Foto: Júlia Rohden – Aedas

Thayla Tomé, também criança atingida de Betim, conta o que aprendeu na Ciranda: “Dano é quando os nossos direitos são violados. Com o rompimento da barragem, sofremos vários danos coletivos. Na Ciranda, fizemos um jogo para falar sobre os danos e entender melhor tudo o que aconteceu”. 

Próximos Passos

Os diálogos sobre os danos coletivos com as pessoas atingidas de comunidades próximas, fortaleceu o processo inicial de construção dos futuros conselhos locais da Governança do Anexo I.1, possibilitando a identificação de danos comuns sofridos por esses territórios. 

Além disso, as propostas realizadas nas reuniões, serão base para análise técnica e jurídica que será realizada pela Aedas, e atualização da lista de danos coletivos sofridos pelas comunidades. 

Por fim, a Aedas seguirá no diálogo com as pessoas atingidas para futuro envio de uma lista de danos coletivos para Entidade Gestora do Anexo I.1, que deverá utilizá-la como base para reparação por meio dos recursos do Anexo I.1. 

A participação informada das comunidades atingidas é fundamental para garantir que a reparação seja justa e adequada às necessidades dos atingidos.

 

Fotos: Felipe Cunha | Júlia Rohden | Isis de Oliveira | Lucas Jerônimo | Valmir Macêdo

Texto: Felipe Cunha | Júlia Rohden | Isis de Oliveira