O cenário de contaminação de comunidades da Bacia do Paraopeba por metais pesados foi tema de uma audiência pública realizada na manhã desta quarta-feira (7) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), em Belo Horizonte. A deputada estadual Leninha (PT) presidiu o debate e convidou, além de especialistas sobre o assunto, representantes da Aedas, lideranças atingidas do Aranha, Tejuco e Melo Franco, comunidades de Brumadinho e representantes da Fiocruz e da Comissão Pastoral da Terra (CPT).  

Foto: Rafael Donizete/Aedas

Ísis Táboas, coordenadora geral do projeto da Aedas na Região 1, apresentou o resultado de estudos realizados pelas consultorias contratadas pela ATI que elencam danos ao meio ambiente e os riscos à saúde humana identificados nas comunidades atingidas pelo rompimento da barragem da Vale.  

“Estes estudos foram trabalhados individual e coletivamente com a população de Brumadinho e seus resultados finais já foram entregues às Instituições de Justiça (IJs). Alguns dados chamam a atenção, como as análises comparativas entre os atendimentos e os casos que chegaram ao SUS nos anos anteriores ao desastre e no ano de 2019. São dados alarmantes sobre os danos à saúde física e mental da população atingida”, explicou.  

Lideranças atingidas exigem solução 

As representantes das comunidades atingidas apontaram os problemas enfrentados desde o rompimento da barragem e, baseadas nos relatórios entregues pela Aedas, exigiram dos órgãos públicos uma série de ações que podem contribuir com o processo de reparação integral.  

“Eu entendo essa situação como uma grave crise de saúde pública que se estabeleceu a partir do crime da Vale e a partir da atividade de mineração extrativista e predatória em Brumadinho e região. Primeiro a gente precisa fazer a denúncia do que está acontecendo porque muitas vezes a realidade não é passada pra frente. A Vale, com seu poder econômico, consegue passar em suas propagandas uma realidade fantasiosa”, denunciou Marco Antônio Cardoso, atingido da comunidade do Tejuco.  

Durante sua fala na audiência, Marco Antônio solicitou aos órgãos públicos ações que podem amenizar estes impactos. “Eu pedi para que fosse criado um grupo de trabalho na ALMG, para que os deputados representantes da população mineira investiguem e ajudem a gente com essa luta no território. Solicitei também que seja instaurada um CPI porque uma vez que temos pessoas, inclusive crianças, contaminadas por metais pesados, acreditamos que tem relação com a exploração minerária e isso precisa ser investigado”, concluiu.  

Foto: Rafael Donizete/Aedas

Dados relacionadas às crianças são destaque 

“Antes do rompimento, as crianças menores de dez anos tinham uma média de atendimento anual no SUS de 5 mil casos. Depois do rompimento, ainda antes da pandemia, o número aumentou para 18 mil casos”, destacou Ísis Táboas da Aedas.  

De acordo com a atingida do Assentamento Pastorinhas, em Brumadinho, Valéria Antônia Carneiro, os dados apresentados nos estudos realizados pela Aedas precisam de atenção do poder público. “O que falar das crianças, que são seres inocentes que estão começando uma trajetória de vida agora?! Elas em momento algum têm culpa do que se foi feito naquele território atingido. Qual é o direito de uma empresa mineradora roubar a inocência de uma criança?! E qual é o direito do Estado de negar ou negligenciar essa contaminação e exposição às crianças?! Quem é que vai salvar essas crianças?”, questionou.  

A audiência pública ainda ouviu moradores de outras regiões da Bacia do Paraopeba e, antes de ser finalizada, a deputada Leninha reforçou o compromisso da ALMG para acatar os requerimentos apresentados pela Aedas e lideranças atingidas.