
“Antes estava ruim, agora está pior!” Ás vezes a gente acha que as coisas não podem piorar, mas na verdade nunca sabemos o que vai acontecer. Com a atingida Marlene Aparecida do Espírito Santo, a Leninha, está sendo assim. Além de ser atingida pelo acionamento do Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM) agora ela sofre com as mudanças que a pandemia tem causado na sua vida e da sua família.
Leninha nasceu na cidade do Serro e ainda bebê foi morar em Betim, onde passou sua vida trabalhando como atendimento comercial em lanchonetes, fazendo salgados e vivendo como podia. Há 7 anos se mudou para a comunidade de Pinheiros, em Itatiaiuçu, com seu companheiro Anélio Osório dos Santos. “Adorei me mudar para Pinheiros, é mais tranquilo, a vida em comunidade é boa, as pessoas são mais unidas, tenho uma horta em casa, posso fazer o que eu gosto que é cozinhar”, contou Leninha.
Depois de um tempo morando Pinheiros, Leninha decidiu sair de seu trabalho em Betim e montar seu próprio negócio na comunidade. Ela começou a construir um bar ao lado de sua casa e sonhava em crescer com seu próprio negócio. “Estávamos montando o bar para ter renda e também proporcionar diversão para a comunidade, era a realização do sonho que a Arcelor tirou da gente”, falou a atingida.
Quando foi acionando o Plano de Ação da ArcelorMittal, o bar da Leninha estava em construção e ela ficou muito preocupada sem saber o que seria da vida dela daquele momento para frente. Sem renda, sem trabalho e sem sonho! “Quando vim para cá, queria uma vida segura e hoje faço tudo com medo, a mancha da lama muda toda hora e não sei se estou na área de risco”, desabafou.
Mesmo com o acionamento Leninha conseguir abrir o bar, ela não estava em uma área de risco. Mas não era a mesma coisa. “Abri o bar, fazia almoço e a noite tínhamos um pouco de movimento, mas não é como pensamos, as pessoas não saem mais, tem medo da barragem e o bar fica vazio”.
Com a pandemia do coronavírus a situação só se agravou. “Antes as pessoas não saiam por medo da barragem, agora também tem o medo de pegar essa doença. Nem abro o bar mais, estou vivendo da renda básica que o governo está dando neste tempo de pandemia”, confirmou Leninha.
“Eu sonhava em viver do meu trabalho, continuar fazendo salgado e tira gosto, trazer alegria para a comunidade, mas não estou conseguindo. Ainda tenho esperança que as coisas vão melhorar, que esse coronavírus vai embora e que a gente posso ter a reparação que merecemos, quero minha vida de volta”, desabafou Leninha.
E não é só a vida de Leninha que está assim, várias pessoas atingidas pelo PAEBM em Itatiaiuçu estão sofrendo duplamente com tudo que está acontecendo. A pandemia está deixando mais pessoas vulneráveis, quem sofria por ser atingida ou atingido pelo acionamento do Plano, agora sofre com a pandemia e com outra incerteza na vida. Como será o dia de amanhã?