Na crise causada pelas enchentes de janeiro deste ano, as mulheres foram as principais protagonistas nas denúncias e apontamentos de danos e situações de vulnerabilidade e extrema vulnerabilidade nas comunidades. O Vozes da Gente desta edição traz relatos de atingidas sobre os Danos das Enchentes, que foram tema da rodada de GAAs que ocorreu em fevereiro.
Sonia Machado – Massangano, Brumadinho:

“De janeiro pra cá, a gente está sofrendo. Desde o crime da Vale, o rio está muito assoreado, qualquer chuva o rio sobe, qualquer coisa o rio está jogando água pra fora. Com as enchentes, o rio subiu mais uma vez e veio pra cima, transbordou, atingiu nosso poço artesiano com essa lama tóxica que vem das mineradoras.
Ficamos ilhados, perdemos muitas coisas. As pessoas perderam móveis, perderam tudo em casa. Para vocês terem noção, tem a lama quando teve ou tem chuva e, quando vem o sol, a gente tem que conviver com mais problema respirando o pó tóxico da lama.
Lembro que em 2019 o rio subiu, a água entrou nas casas, mas agora a enchente foi mais devastadora, atingiu Brumadinho inteira.
A gente tem noção de que isso está acontecendo também por causa do crime da Vale e é por isso que ela [a mineradora] tem que arcar com as responsabilidades na reparação integral e nesse momento que a gente tá vivendo agora”.
Rosa Nunes – Colônia Santa lsabel, Bairro Cruzeiro – Betim

“Foi um momento de pânico e terror. Eu tinha saído e, quando cheguei em casa, já não tinha como entrar, a água já estava no portão. Perdi tudo, tudo mesmo, minha geladeira ficou boiando na água. Perdi cama, guarda-roupas, armários, só ficaram algumas vasilhas que deu pra lavar. Minha casa até hoje não secou, está fedendo essa lama pra todo lado no meu terreiro. Minhas galinhas, minha plantação de verduras, flores, meu cachorro, tudo foi embora.
Fiquei doente, meu esposo também com coceira no corpo. Tive pneumonia, tive confusão mental, fiquei dias com a cabeça e pensamento longe, sem rumo diante do que aconteceu. Está sendo muito difícil porque nós não temos conseguido doações pra recomeçar, a gente recebe alimento, produto de limpeza, mas perdemos muito mais. Graças a Deus saímos com vida, né?!
Mas a gente ainda está vendo o rio cheio, como está o nível, a gente acorda a noite inteira pra subir na escada e ver como está a situação, com medo do que pode acontecer”.