Em 12 de novembro de 2025, a Assessoria Técnica Independente Aedas realizou, na Escola Claudionor Lopes, em Barra Longa, a segunda Roda de Diálogo com famílias que vivem em moradias temporárias custeadas pela Samarco, uma das empresas poluidoras pagadoras no âmbito do processo de reparação pelo rompimento da barragem de Fundão. O encontro teve como objetivo validar e complementar as informações fornecidas pelos atingidos na primeira roda de diálogo, fortalecendo a construção coletiva do parecer técnico sobre o iminente fim do auxílio de aluguel. Também foram apresentadas ações e caminhos possíveis para tentar resolver a situação até que ocorra a efetiva reparação integral dessas famílias. 

A atividade ocorreu em meio à crescente preocupação das famílias, após a notificação da Samarco informando que deixará de custear as moradias temporárias em dezembro de 2025. Algumas pessoas relataram que o benefício já foi suspenso, aumentando o sentimento de insegurança. “Como é que a gente vai dormir tranquilo com a ameaça de ser despejada?”, questionou uma atingida. Para ela, a realidade é dura: “Barra Longa não tem morador de rua, mas a partir de dezembro vai ter.” 

A Aedas apresentou um panorama histórico da reparação, destacando que Barra Longa foi o único centro urbano atingido diretamente pelo rejeito em 2015, o que provocou o deslocamento de diversas famílias. Em 2016, o intenso fluxo de caminhões utilizados na limpeza do grande volume de rejeito depositado na cidade provocou trincas e danos estruturais, posteriormente comprovados por perícias independentes. Deliberações do CIF garantiram o direito das pessoas às moradias temporárias em casos de risco, mas a interrupção do assessoramento técnico, com a retirada da Aedas do território entre 2021 e 2025, deixou as famílias desassistidas. 

As falas dos participantes evidenciaram o impacto das incertezas. Andreia Mendes, da Comissão Territorial, reforçou a gravidade do momento: “Estamos vivendo sob o risco de despejo em pleno Natal. As famílias seguem desassistidas e continuamos enfrentando a violação do direito à moradia digna.” 

Medidas emergenciais e próximos passos 

A Aedas apresentou medidas emergenciais, como o registro de solicitações de informações sobre cada caso individual no portal da Samarco, o que gera protocolo e comprovação jurídica, além do envio de ofício ao  Núcleo de Acompanhamento de Reparações por Desastres (NUCARD) que tem como função coordenar e supervisionar o cumprimento dos acordos de reparação dos desastres que ocorreram em Mariana, em 2015 e que conta com membros do Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e Defensoria Pública de MG (DP-MG) solicitando intervenção na situação.  

Também foi oficiada a Samarco Mineração S.A. para que forneça a relação atualizada das famílias residentes em moradias temporárias no município de Barra Longa, cujos aluguéis são custeados pela empresa. Solicitou-se ainda a realização de uma reunião emergencial com Samarco, NUCARD, Defensorias, Ministério Público, Prefeitura e Secretaria de Habitação, a fim de buscar alternativas imediatas para garantir a continuidade do custeio das moradias. 

A Aedas informou que o parecer técnico será atualizado com as contribuições desta Roda de Diálogo e que aguarda respostas da Samarco e do NUCARD.