Aedas realiza reuniões para avançar nos regimentos internos dos Conselhos Locais do Anexo I.1
GOVERNANÇA POPULAR. As pessoas atingidas vêm participando de um intenso processo de construção participativa para os projetos voltados às demandas das comunidades

Durante o mês de outubro, a Aedas realizou a 6ª rodada de reuniões com as comunidades atingidas pelo desastre-crime da Vale nas Regiões 1 e 2, que abrangem os municípios de Brumadinho, Betim, Mário Campos, Igarapé, São Joaquim de Bicas, Juatuba e Mateus Leme com Povos e Comunidades Tradicionais.
Esta nova etapa teve como objetivo complementar os regimentos internos dos Conselhos Locais do Anexo I.1 – já em construção – e aprofundar os diálogos sobre a composição desses conselhos, que integram a Governança Popular do Anexo I.1, estrutura que deve decidir sobre os projetos de demandas comunitárias e linhas de crédito e microcrédito, com foco no fortalecimento econômico, eixo central da reparação coletiva.
Desde 2023, as pessoas atingidas da R1 e R2 vêm se preparando para execução dos 2 anos iniciais do Anexo I.1 junto à Aedas, participando de um intenso processo de construção participativa, que inclui rodadas de reuniões, visitas técnicas e formações, garantindo que cada decisão sobre a estrutura da governança seja tomada de forma coletiva e democrática.
Nas etapas anteriores, foram definidos os agrupamentos de comunidades, discutidos os danos coletivos e consensuados os nomes das conselheiras e conselheiros locais e regionais, enviados à Entidade Gestora para as formações iniciais.

Juliana Funari, coordenadora da equipe do Anexo I.1 da Aedas, explicou o objetivo do encontro: “Estamos iniciando mais uma rodada de reuniões intercomunitárias, que são encontros dos conselhos locais com o propósito de avançar na construção do regimento interno. Esse processo é uma preparação para a inauguração dos conselhos locais e regionais junto à entidade gestora. As discussões realizadas nessas reuniões vão resultar em uma versão atualizada dos regimentos internos, que fazem parte dessa etapa de preparação para a instalação dos conselhos”.
Nesta 6ª rodada de reuniões, os encontros tiveram como foco complementar os artigos dos regimentos, especialmente os capítulos que tratam da composição e funcionamento dos Conselhos Locais. As discussões incluem temas como número de conselheiros titulares e suplentes, representatividade de grupos vulnerabilizados e aperfeiçoamento das regras de tomada de decisão.

Levi Duarte, liderança atingida da comunidade Presidente, em Brumadinho, avaliou o encontro como um momento importante para esclarecer dúvidas sobre a formação dos Conselhos: “o espaço foi importante para clarear as ideias sobre a formação dos Conselhos, sobre a futura deliberação desses projetos e como que vai acontecer e assim, as regras que os Conselhos estão colocando para isso funcionar”.

Terezinha Leite, liderança atingida do Alto da Boa Vista, em Betim, afirmou que “A Aedas é impecável no que ela faz, temos muito que agradecer a ela. O conhecimento que a gente tem com a explicação com o pessoal da Aedas é muito importante, porque todas as comunidades estão juntas, representantes, comissão e estamos unidos pra lutar pelos nossos direitos e fazer o que for melhor pra todas nós”.
Um dos pontos centrais é o artigo 18, que trata da composição dos Conselhos. A Entidade Gestora estabeleceu que cada Conselho Local deve ter três representantes titulares por comissão de atingidos, de forma a garantir a ampla participação. Em alguns casos, considerando esse processo preparatório e de construção, foram indicados novos conselheiros, fortalecendo a representatividade de mulheres, Povos e Comunidades Tradicionais, juventudes e outros marcadores sociais das diferenças.
Além de construir ajustes nos textos, as reuniões são momentos de escuta e diálogo entre comunidades, lideranças e equipes técnicas. Cada artigo do regimento é apresentado, debatido e consensuado coletivamente, em um processo que reafirma o compromisso com a participação social e a transparência.

A liderança atingida Edalgisa Martins, de Santa Ana, Igarapé, esteve na reunião e falou sobre seu sentimento após o encontro: “Estou muito esperançosa com a união que estou vendo, o respeito entre os componentes do conselho e a nossa participação com a Aedas, que tem nos ensinado desde o início e estamos fazendo uma repescagem, uma formação mesmo com todos que estão entrando agora”.
A liderança atingida dos Povos e Comunidades de Tradição Religiosa Ancestral de Matriz Africana (PCTRAMA), Leonardo Henrique, da Unidade Territorial Tradicional Nzo Atim Kaiango Ua Mukongo, em Juatuba, relatou: “Tivemos muitas conversas, a conversa foi boa já que é difícil de você chegar num consenso, sempre vão ter ideias diferentes, mas com diálogo acaba que as coisas vão se encaixando. O conselho está se estruturando, pensamos na questão de representatividade para que mais pessoas que se interessam pela causa possa se juntar conosco”.
A 6ª rodada também contribui para preparar as comunidades quanto aos regramentos da próxima etapa, que será realizada com a Entidade Gestora e tratará da inauguração dos Conselhos Locais e Regionais de Governança, prevista para acontecer entre outubro e novembro de 2025.
A construção dos regimentos é um exercício de autogestão e democracia participativa, no qual as pessoas atingidas definem as próprias regras que vão guiar o processo de reparação coletiva no âmbito do Anexo I.1.
O que são os Conselhos Locais, Regionais e Inter-Regionais?

Os Conselhos Locais e Regionais fazem parte da estrutura da Governança Popular do Anexo I.1 do Acordo Judicial de Reparação, que trata dos projetos voltados às demandas das comunidades atingidas, incluindo linhas de crédito e microcrédito.
Por meio desses Conselhos, as lideranças atingidas, que serão conselheiras e conselheiros (titulares e suplentes), poderão decidir e acompanhar de perto os projetos que têm como objetivo fortalecer economicamente suas comunidades de forma coletiva.
Os Conselhos Locais são formados por comunidades atingidas próximas e que possuem danos comuns, as quais são representadas, nessa instância, por lideranças comunitárias escolhidas coletivamente enquanto conselheiras titulares ou suplentes.
Já os Conselhos Regionais reunirão lideranças de toda a região. No caso da Região 1, essas lideranças representarão o conjunto das comunidades atingidas de Brumadinho.
Em relação a Região 2, as lideranças do conselho regional representarão todas as comunidades atingidas dos municípios de Betim, Juatuba, Igarapé, Mario Campos, São Joaquim de Bicas e Mateus Leme pelos PCTs.
Os regimentos das instâncias regionais serão construídos após a inauguração, pois é a partir desse momento que essa coletividade, enquanto instância, elaborará os regramentos para seu funcionamento.
Além disso, será criado um conselho inter-regional, composto por conselheiros e conselheiras de todas as regiões da Bacia do Paraopeba e Represa de Três Marias.
Os regimentos internos de cada conselho estabelecem regras e procedimentos, como a frequência das reuniões, as formas de deliberação e os mecanismos de acompanhamento dos projetos pelas pessoas atingidas.
E os Setores da Governança, o que são?
Os Setores fazem parte do Eixo de Participação e Controle Social, estruturado ao longo da bacia. Esse eixo é formado tanto pelos Conselhos Local, Regional e Inter-regional, quanto pelos Setores nos mesmos níveis.
A Proposta Definitiva da Governança Popular do Anexo I.1 prevê os Setores Locais, Regionais e Inter-regionais para os Povos e Comunidades Tradicionais e grupos específicos, como Zona Quente, Familiares de Vítimas Fatais (FVF), estes que já tiveram espaços preparatórios com a ATI e momentos de construção com a Entidade Gestora. Além disso, a Proposta Definitiva prevê também setores de Mulheres e de Pessoas com Deficiência (PCDs).
Situação atual
Com os recentes acontecimentos e a decisão que suspendeu a complementação de recursos destinados à Aedas para o acompanhamento técnico do Anexo I.1, a continuidade da ATI neste processo está em risco e deverá ser paralisada, o que pode comprometer o avanço da reparação e a efetiva participação das pessoas atingidas.
Sem viabilidade de continuidade, no dia 15 de outubro a Aedas iniciou o processo de desmobilização da ATI nas Regiões 1 e 2 da Bacia do Paraopeba, colocando a equipe em aviso prévio.
A implementação do Anexo I.1 do Acordo de Reparação sofreu um atraso de 4 anos, e a continuidade da ATI para acompanhamento do Anexo I.1 depende de um termo aditivo. No entanto, o estudo de complementação de recursos, apresentado pela CAMF e Instituições de Justiça, mostrou que os valores destinados à Aedas para o acompanhamento do Anexo I.1 eram inexequíveis, o que inviabilizaria a continuidade de sua execução.
Veja o vídeo e saiba mais:
Seguimos comprometidos com a luta das pessoas atingidas e buscando reverter essa situação. É fundamental garantir condições dignas de participação, respeitando o protagonismo e a centralidade das pessoas atingidas no processo de reparação.


