Indignação e incertezas exemplificam os sentimentos externados por atingidas e atingidos durante o seminário “Por um manifesto de justiça: pessoas atingidas lutam pela participação no processo de reparação na bacia do Paraopeba”, realizado pelas Assessorias Técnicas Independentes (ATIs) e pela PUC Minas (que atua como Coordenadora Metodológica Finalística do Projeto Paraopeba) nesta quinta-feira (3). O encontro virtual teve como intuito socializar o que vem sendo feito diante da possibilidade de um acordo entre a Vale, o Governo de Minas Gerais e Instituições de Justiça (IJs). A negociação, até o momento, excluiu a participação das pessoas atingidas, em uma nova violação de direitos.

“Nos sentimos atropelados, desrespeitados, ignorados, desassistidos, humilhados, desonrados, esses e outros muitos sinônimos que poderiam refletir o que se passa no nosso coração. A Vale fez e não assume. Agora, que precisamos de justiça, somos mais uma vez ignorados. O nosso Estado que deveria nos proteger não protege. Faz um acordo sem a participação dos protagonistas? O que mais vamos ter que fazer para provar que somos as vítimas? Estamos lutando pela nossa reparação. O Estado que deveria nos proteger fechou as portas”, manifestou Schirlene, representante da comunidade Aranhas.

Além do trabalho contínuo de mobilização, as comunidades, ao lado das ATIs, têm pautado questões fundamentais sobre a condução das negociações do possível acordo. “O que está sendo colocado aqui são questões básicas referentes aos direitos de muitas pessoas. Acordo é possível, desde que com respeito incondicional ao que os atingidos e atingidas vêm reivindicando. Só assim”, disse Bruno Kassabian, representante da Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas), que presta assessoria nas regiões 1 e 2 do Paraopeba.

Durante o seminário, as ATIs que atuam na Bacia – Guaicuy, Nacab e Aedas – e também a PUC Minas, apresentaram as informações públicas divulgadas até aqui sobre as negociações em torno do acordo, que versa sobre a reparação de danos sociais, econômicos e ambientais provocados pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, ocorrido em janeiro de 2019. O espaço serviu para atualizar e ampliar informações e fazer uma retrospectiva do trabalho.

Para o babalorixá Edvaldo, representante dos Povos e Comunidades de Tradição Religiosa Ancestral de Matriz Africana (PCTRAMA), há uma reafirmação constante do racismo institucional, presente em toda a sociedade, com a negação de direitos às comunidades, visto que suas vozes são ignoradas. “Este é um acordo de gaveta que nos ataca. Representa a força do capital financeiro, e pior, com a parceria do Estado. Há um exercício de sempre nos inviabilizar”, disse o líder religioso.

A mesma insatisfação diante da exclusão das pessoas atingidas das negociações, é a da Tatiane de Menezes, da comunidade Queima Fogo, de Pompéu. “É dor, vergonha, tristeza, sufoco. Lutamos, fazemos reuniões, encontros mas não sabemos o que tem neste acordo. O Governo, que deveria pensar em nós, está pensando em grandes obras para a reeleição. Antes de pensar nas pessoas pensam em si próprios. A gente pensa nesse acordo 24 horas por dia, o que tem neste acordo, como será. O inimigo, uma multinacional desse tamanho, já era grande, imagina agora junto de um Governo”, falou Tatiane.

Cerca de 300 pessoas acompanharam o seminário simultaneamente. A próxima audiência para discussão deste acordo será realizada no dia 9 de dezembro, às 14h. As Instituições de Justiça solicitaram que estejam presentes pelo menos dois representantes de atingidos e atingidas de cada região e também que haja acompanhamento das ATIs.

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