A comunicação movimenta centenas de jovens e pessoas que constróem pastorais cristãs na Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário (RENSER), em Brumadinho. Pensando no atual cenário de uso de tecnologias para a mobilização social e no crescente uso das fake news que atrapalha esse processo, a pastoral da comunicação realizou um curso voltado para a temática e convidou a Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (Aedas) e outras entidades para se somarem no processo.

A aula inaugural foi nesta quarta-feira (23), transmitida pelo Youtube e pelas redes sociais da RENSER. O tema do primeiro encontro foi “Comunicação para Mobilização Social & Direito à Informação”. A jornalista e coordenadora da equipe de comunicação da Aedas em Brumadinho, Joana Tavares, participa do curso junto com o doutorando em comunicação e política, Vinicius Borges, da Pastoral da Juventude.

Dom Vicente Ferreira, da Região Episcopal Nossa Senhora do Rosário, no Vale do Paraopeba, reforçou a importância da comunicação nos dias de hoje e o trabalho de inclusão dos mais pobres e das pessoas atingidas na disputa pelas narrativas na informação.

“Na nossa região nós estamos lidando todos os dias com a questão do crime da Vale, então nós temos nossas comunidades atingidas, as famílias enlutadas, nós temos uma série de questões que precisam ser trabalhadas e precisam ser visibilizadas. Porque se a gente olhar a mídia grande, a comunicação que a gente conhece, está muito atrelada ao poder, ao dinheiro, é uma comunicação que informa aquilo que é do interesse sobretudo de quem tem domínio. Quem paga mais, mostra a sua verdade”, disse Dom Vicente.

Joana Tavares falou sobre o direito à comunicação no que diz respeito à busca, ao recebimento e à transmissão de informações. Para ela, o Brasil ainda deve avançar na efetivação de políticas públicas que garantam os meios de comunicação de caráter público, minoria se comparados com as emissoras e grandes conglomerados privados.

A comunicadora social ainda alertou para alguns padrões da mídia comercial como a ocultação, a inversão de conteúdo e a descontextualização, chamando atenção para as implicações desses padrões no imaginário da população.

“Ao pensar que a mídia tem tanta importância na nossa vida, talvez seja a instituição que mais entre nas nossas casas para nos explicar como funciona a vida e a sociedade, essa descontextualização é muito perigosa. É apresentar um fato sem explicar o porquê, como aquilo começou, quais as implicações econômicas e políticas, por que chegou e onde chegou”, explicou Joana, citando como exemplo a situação do Pantanal, que é apresentada na mídia comercial sem a contextualização devida.

Ela trouxe também a importância de pensar a comunicação envolvendo as pautas dos atingidos e das atingidas, que são protagonistas para relatarem os danos e como a vida mudou depois do rompimento da barragem do Córrego do Feijão.

Vinícius Borges, da Pastoral da Juventude, destacou a importância de retomar o pronome “nós”, ao invés do reforço insistente do individualismo, que ele chamou de “ditadura do eu”.

Além da Aedas, o curso de Comunicação Popular conta com o apoio da Cáritas, do Núcleo de Estudos Sociopolíticos, e ANIMA da PUC-Minas.

“Que nós não percamos a arte de dizer e pensar. Porque um sistema injusto, ou um sistema autoritário, uma das coisas mais importantes para ele, uma ditadura, por exemplo, é matar a voz, é matar a comunicação, cerceando, inibindo, não deixando falar. Que esse curso ajude então a fazer o contrário, a abrir a nossa voz, a abrir a nossa imaginação, para fazermos um caminho de justiça, de paz para todas as nossas comunidades”, destacou o Bispo Dom Vicente Ferreira.