Centenas de pessoas discutem saúde em 28 Rodas de Diálogo promovidas pela Aedas
“Na saúde, foi o que mais afetou. Tanto na mental, como na física também. Antes a gente era uma família que não dependia de fazer terapia, de ficar tomando remédio, de ir em psiquiatra, de ter problemas emocionais, a gente não tinha isso. Eu desenvolvi síndrome do pânico e depressão. Eu tenho traumas e vou ter o resto da vida”, relata Patrícia Mara Anísio, mãe de Letícia Mara, que morreu pouco mais de um mês antes de completar 29 anos, vítima do rompimento da Barragem do Córrego do Feijão, em 25 de janeiro de 2019.
Patrícia faz parte da Avabrum, a Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos do Rompimento da Mina Córrego do Feijão Brumadinho. Esse grupo foi um dos que participou das Rodas de Diálogo (RD) sobre Saúde promovidas pela Aedas nas regiões 1 e 2 da Bacia do Paraopeba, na última sexta-feira (18).
Na região 1 (Brumadinho), foram 13 RDs, incluindo a da Avabrum e outra com os quilombos, com metodologias e dinâmicas próprias. Ao todo, participaram cerca de 200 pessoas da Região 1. Já na Região 2 (Betim, Igarapé, São Joaquim de Bicas, Mário Campos e Juatuba) ocorreram 15 rodas simultaneamente.
Direito de todos, dever do Estado
Já nos materiais preparatórios para a RD, a equipe da área temática da saúde da Aedas buscou instigar a reflexão sobre o sentido amplo do termo, já que saúde não é somente o oposto de doença. Nessa compreensão mais abrangente, saúde é o resultado das condições de alimentação, moradia, educação, renda, meio ambiente, trabalho, lazer e acesso a uma série de outros direitos, conforme está escrito no relatório da 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, que foi onde nasceu o Sistema Único de Saúde (SUS), que fez aniversário no dia 19 de setembro.
Leia mais na cartilha que a Aedas preparou sobre o tema.
Na Roda de Diálogo não foi diferente. “As Rodas de Diálogo Temáticas cumprem com a função de devolver para os atingidos e as atingidas todas as informações coletadas nos GAAs. Os dados levantados se relacionam com as demandas emergenciais nas mais diversas áreas e que necessitam de medidas mais rápidas, levando em conta a vulnerabilidade em que as comunidades se encontram”, explica Mayara Machado, coordenadora de mobilização da Aedas na região 2.
Segundo Iasmin Vieira, coordenadora de mobilização da Aedas na região 1, a principal diferença do GAA para as RDs é justamente esse momento de devolver aos atingidos e atingidas as informações que foram levantadas antes, para que sejam validadas e incluídas novas questões a partir daí.

No caso da saúde, Doracy Medeiros, coordenadora da área na região 1, conta que surgiram alguns acréscimos importantes, que serão agora sistematizados e transformados em sugestões jurídicas para cada medida apontada. Todos esses dados serão levados depois às Instituições de Justiça e em outro momento para o juiz, para avaliação e decisão. Além de contribuir no levantamento e sistematização dessas informações, a Aedas, como assessoria técnica, também pode contribuir com outras ações, como detalha Doracy:
“A ATI pode contribuir com ações informativas sobre os direitos de toda/os à saúde e com a mobilização para a participação popular garantida por lei, bem como levantar todos os serviços de saúde que estão em funcionamento nos municípios acompanhados pela ATI, inclusive programas e equipamentos que não são específicos dos serviços de saúde, mas que compõem a rede ampliada de assistência”, diz.
Ciranda
As crianças também foram incluídas nesse espaço participativo. Por meio da rádio Aedinhas, a equipe de pedagogia da Aedas buscou informar as crianças sobre saúde. Além da segunda edição da rádio, que foi ao ar na última segunda-feira (21), as pedagogas e pedagogos estão preparando um fanzine, que será divulgado na próxima semana.
“Nós procuramos abordar a temática da saúde focando na questão da saúde alimentar, de como as crianças podem construir hábitos alimentares que sejam positivos, na saúde mental e importância do diálogo, sobre externalizar o que está sentindo e de construir acordos com colegas e também higiene pessoal, lavagem das mãos, lavagem dos cabelos, etc”, contou Scarlet Souza, da equipe de pedagogia.
Próximos passos
A primeira Roda de Diálogo promovida pela Aedas foi sobre o Pagamento Emergencial. A Assessoria, enquanto segue no processo dos registros familiares, também prepara as próximas RDs temáticas, que serão sobre patrimônio cultural, socioambiental, economia, moradia, educação, povos de comunidades tradicionais e mulheres.
Depois de validar e acrescentar as novas informações com as RDs, a partir dos dados levantados nos GAAs, a Aedas vai fundamentar os dados do ponto de vista teórico e jurídico e entregá-los às instituições que acompanham o processo. A proposta é montar uma matriz de danos emergenciais, ou seja, com as informações de tudo que precisa ser levado consideração de forma urgente, para garantir o direito das pessoas atingidas, demandas que não podem esperar a reparação integral.
