Mais de duas mil pessoas participaram do evento que ofereceu variedade gastronômica e musical

Entre as atrações musicais esteve a jovem do Córrego do Feijão Laura Ribeiro, de 16 anos | Fotos: Douglas Andrade/Aedas

A comunidade do Córrego do Feijão, ponto de partida do desastre-crime da mineradora Vale que atingiu a Bacia do Rio Paraopeba, resiste aos diversos danos provocados pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, ocorrido em 2019. Resistência essa que também se dá por meio da cultura. No sábado (10/08), foi retomada a tradicional Festa do Feijão, após seis anos desde sua última edição.

A festividade, promovida pela Associação dos Moradores do Córrego do Feijão, reuniu pessoas da comunidade, do município de Brumadinho e da Região Metropolitana de Belo Horizonte. De acordo com os organizadores, mais de duas mil pessoas passaram pelo evento na noite de sábado. Barracas com comidas típicas da festa, como o caldo e o bolinho de feijão e as atrações musicais movimentaram a Praça 25 de Janeiro.

Mais do que a retomada da festividade, os organizadores querem ressaltar que a comunidade resiste frente aos processos que têm enfrentado nos últimos anos, como apontou o membro da Associação dos Moradores, Fabiano de Oliveira. “O Córrego do Feijão está vivo! É para mostrar que a comunidade, apesar de tudo que aconteceu aqui, ainda está de pé e tem pessoas do bem. Isso é o que mais importa”, disse.

Praça 25 de Janeiro recebeu mais de duas mil pessoas que acompanharam a festividade

A última edição havia sido realizada em 2018. Com o rompimento de 2019, que provocou mudanças profundas no cotidiano do Córrego do Feijão, somado com os anos de enfrentamento à pandemia de Covid-19, ficou inviável a organização da Festa. Cássia Cristina Ribeiro, membro da Associação dos Moradores, explicou como foram os preparativos para a realização dessa edição.

“Fácil não foi. É muita coisa que a gente teve que correr atrás. Foi muita correria e está sendo até o momento, mas a satisfação é muito grande de estar com a nossa festa de volta. Para mim, como moradora e membro da associação, acho muito importante que a gente está resgatando a nossa história, algo que era uma coisa antiga da nossa comunidade. Então é muito satisfatório”, contou.

Festa contou com diversidade de sons e sabores

Além da variedade de sabores encontradas nas barracas de alimentação, a Festa do Feijão agradou diversos públicos com as atrações musicais passando pelo sertanejo, piseiro e rock. Entre as artistas, esteve a cantora Laura Ribeiro, de 16 anos, moradora do Córrego do Feijão, que foi a responsável por abrir a noite de shows.

Quem participou da festa pela primeira vez como expositora foi a cozinheira e moradora do Córrego do Feijão, Aline Aparecida Muniz. Ela e outras cinco pessoas integram o Memórias Cozinha Afetiva, projeto formado por pessoas atingidas da comunidade que existe há pouco mais de um ano.

“Nós servimos as coisas que remetem momentos felizes, como momentos às vezes de dentro de casa, com a avó, com a tia. Tudo que a gente faz é remetendo a lembranças do nosso passado, coisas que remetem à nossa infância, por isso que é Memórias Afetivas”, explicou.

Em sua barraca, que ficou movimentada durante todo o evento, ela contou sobre a importância da festa para enfrentar o estigma que o rompimento deixou. “A retomada da festa é muito importante, porque traz de volta as pessoas que já não vinham aqui mais. Muita gente ficou com preconceito do local, falando que está contaminado. Então, trazendo as pessoas de volta e as pessoas vendo como é que está o local, eu acho que é uma porta aberta para as outras coisas também”, avaliou.

Veja mais fotos:

Texto: Diego Cota

Fotos: Douglas Andrade