No mês do Dia Mundial do Meio-Ambiente, Santana compartilha sua sabedoria de cuidado com os bens naturais

Maria Santana, 60 anos, é filha de lavradora e pescador. Nasceu na roça, no município de Buritizeiro, às margens dos afluentes do Rio Paracatu, que deságua no Rio São Francisco. Criada em meio à natureza, entre animais, plantações e o rio, Santana afirma: “Eu sou filha da mata, por isso hoje tenho essa garra com a mata. Eu não fui criada com pessoas”. Em sua infância, era raro ver outras pessoas; chegava a ficar até seis meses sem encontrar ninguém. O vizinho mais próximo ficava a uma légua de distância, cerca de cinco quilômetros.
Ainda na infância, aos 10 anos, Maria Santana foi para Belo Horizonte para trabalhar como cuidadora de crianças em uma casa em Nova Lima. Além de cuidar das crianças, ela realizava outras tarefas domésticas, como lavar roupas e limpar banheiros, muitas vezes assumindo responsabilidades de outras funcionárias: “Foi uma época difícil para mim, mas eu queria ajudar meus pais. Na época, eu trabalhava por 30 cruzeiros”, lembra Santana. Desses 30 cruzeiros, ela ficava com 1 para si e enviava os outros 29 para seus pais.
Depois, Santana passou a ser voluntária em asilos: “Comecei a trocar meus dias de folga, que eram aos domingos, para ir aos asilos”. Com o tempo, quando ficou um pouco mais velha, começou a trabalhar em uma creche e atuou como voluntária na Colônia Santa Isabel, em Betim: “Era nisso que eu me realizava”, diz ela, referindo-se aos trabalhos de cuidado.

Com o passar do tempo, Santana travou uma luta contra o desmatamento em Nova Lima: “Nós organizamos movimentos para evitar o avanço da exploração ambiental”.
Em meados de 2002, quando Santana se mudou para São Joaquim de Bicas, começou a compreender o impacto das mineradoras: “Aqui era tudo mata, uma coisa linda do mundo. Quando chegamos, ainda havia bichos como capivaras, seriemas e bandos de micos. Mas nos últimos cinco anos, eles começaram a desaparecer. Hoje em dia, é raro ver algum deles, e quando aparecem, não são como antes“.
Após o rompimento da barragem de Brumadinho em 2019, Santana viu sua autonomia alimentar e hídrica ser atingida: “Antes, tirávamos quase tudo daqui. 90% da nossa comida vinha do nosso quintal. Tinha fava, feijão, feijão de corda, abacate em abundância, chuchu. Enchíamos o porta-malas do carro e distribuíamos para os outros. Tínhamos ovos, tomates, alface, cenoura, beterraba, banana, tudo fresquinho. Não precisávamos comprar nada. As minhas galinhas começaram a morrer” .

Santana utilizava água da cisterna. Cerca de dois meses após o desastre-crime, ela recorda: “Um dia liguei minha cisterna e a água saiu vermelha, parecia que tinha sido misturada com glitter, com um cheiro de ferrugem”. Com o caminhão pipa da prefeitura passando a abastecer apenas uma vez por semana, Santana enfrentou dificuldades: “A água do pipa não era suficiente para molhar minhas plantas. Eu precisava usá-la para tomar banho e cozinhar, então comecei a molhar as plantas com a água da cisterna. Mas cadê as minhas plantas agora?”.
Atualmente, Santana é obrigada a pagar pela água fornecida pela COPASA.
Sobre a mineração, Santana expressou sua opinião: “Eu acho que não deveria existir mineradora. Penso que as mineradoras se aproveitam do bem da humanidade, que é a natureza e o meio ambiente. Por que apenas alguns poucos se beneficiam? E esse benefício resulta na morte de muitos, na destruição de muitas vidas e no enorme dano ambiental. A devastação é imensa. Portanto, na minha visão, não compensa“.
Sobre a minério dependência, Santana acrescenta: “Existem muitas outras formas de ganhar dinheiro, de trabalhar”. E complementa: “A mineração não enriquece o Brasil; o SUS está sobrecarregado de doenças, por quê? Porque o meio ambiente está doente. Essas grandes empresas que destroem a natureza trazem malefícios, discórdia e desordem. Hoje eu vejo aqui em São Joaquim de Bicas, depois do rompimento, que acabou o lazer, a diversão; as pessoas estão nervosas. Os danos atingem muito a saúde física e mental, além do meio ambiente“.
Santana ainda questiona: “A mineração compensa para as autoridades e para o governo o custo que dá? Para nós, não compensa! Acredito que esse custo é bastante alto (…) Além de danificar o meio ambiente, a mineradora danifica tudo. E é um bem da humanidade. Eles destroem uma coisa que não é de um só“.


Santana também destaca o intenso tráfego de caminhões em sua comunidade: “É dia e noite, jogando poeira para cima e para baixo. Mesmo com caminhões que molham o asfalto, logo se transforma em poeira de minério.” Ela menciona as dificuldades enfrentadas no posto de saúde: “É difícil conseguir atendimento, encontrar medicamentos, especialmente antidepressivos. A farmacêutica me disse que em dois dias distribuíram antidepressivos para o mês todo. É uma situação muito grave“.
Sobre o Acordo de Reparação, firmado a portas fechadas, sem a presença dos atingidos, Santana lamenta: “Estou buscando a reparação até hoje e ainda não a encontrei.” Ela enfatiza a importância da reparação ambiental: “A reparação ambiental é o primeiro passo que precisa ser dado. Mas não há reparação! Eu afirmo com todas as letras!”, e acrescenta: “A reparação que eu gostaria que tivesse é o meu quintal, dando as frutas que davam antes, voltar a minha vida antes, com a vida que eu escolhi viver, que foi arrancada de mim. Eu quero ver nossa beira de rio que tínhamos antes. Cadê o Rio que ainda não foi dragado?”
Sobre o meio ambiente, celebrado no dia 5 de junho, Santana enfatiza: “A natureza é vida. É isso que o povo, especialmente os grandes, precisam entender. Talvez eles não tenham a integração com a natureza, mas eles pensam que não tem. Porque começa da mesa: quem fornece o trigo? O meio ambiente! O café? O meio ambiente! Imagina se a terra do Brasil inteira ficar igual o meu quintal? Como vai ser a vida? Cuidar da natureza é ter responsabilidade com ela. Quando nos afastamos desse propósito, sofremos“.
Para encerrar, Santana conclui: “Cuide do meio ambiente, pois ele é vida. Assim, teremos saúde e vida. Não há nada mais a dizer sobre o meio ambiente. Quando você prejudica o meio ambiente, está prejudicando a si mesmo!”
Texto e fotos: Felipe Cunha | Aedas
Você pode ler outras Histórias Atingidas clicando abaixo