“Perda de renda, danos à saúde mental e impossibilidade de empreender”

“Lazer, direito de ir e vir e danos ambientais”. 

“Danos à moradia, memória afetiva e lazer”.

Já imaginou perder tudo isso de uma hora para outra? Foi isso que aconteceu em 2019 com as comunidades atingidas pelo acionamento do Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM) da ArcelorMittal em Itatiaiuçu. Estes relatos são de mulheres atingidas de Itatiaiuçu que participaram do 1º Encontro de Mulheres na Liderança realizado pela Assessoria Técnica Independente da Aedas no último dia 16 de maio. O encontro foi um espaço de troca para essas mulheres que hoje são líderes e coordenadoras do Grupo de Base de suas comunidades e lutam por uma reparação justa e integral. 

Em um diagnóstico realizado pela Assessoria Técnica Independente da Aedas e desde que a Assessoria começou a acompanhar as mulheres atingidas de Itatiaiuçu, foram diversos relatos de ansiedade, tristeza e incertezas. As mulheres contaram que depois do acionamento teve um aumento do trabalho doméstico, da violência, da insegurança nas comunidades e fortes danos à saúde física e mental. O medo, por exemplo, é mais um companheiro no dia a dia das mulheres das comunidades de Vieiras, Lagoa das Flores e Pinheiros. 

E por que não dividir as dores, expressar seus sentimentos e sonhos? Além de ser um espaço de escuta, o encontro também foi de transformação. Durante a reunião, às mulheres atingidas conheceram o projeto Arpilleras, promovido pelo Movimento por Atingidos por Barragem (MAB) e que foi inspirado na técnica de costura popular, usada por mulheres chilenas para denunciar os abusos de direitos humanos sofridos por elas e seus familiares durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Com muitas histórias para contar e muitos sentimentos para compartilhar, as atingidas de Itatiaiuçu encontram na iniciativa das Arpilleras um lugar de acolhimento e partilha dos sonhos. 

Com um espaço seguro para dividir seus sentimentos, algumas mulheres atingidas se sentiram à vontade para expressar suas dores e suas impressões sobre as peças das Arpilleras ali expostas. “Conhecemos um pedacinho de outras atingidas, de outros lugares. Suas dores são parecidas com a nossa, com a de nossas comunidades. Elas desenharam num bordado sobre a vidas delas e ali vi muita emoção”, dividiu a atingida C.J..

“Unidas por uma dor”. Assim, a atingida e representante do MAB, Laíssa Gomes de Miranda, definiu o projeto Arpilleras. “O que tem ressignificado a dor? É transformar ela em luta. É trazer os sentimentos que as mulheres têm no individual e trazer para o coletivo na luta. As Arpilleras vem para fortalecer a luta das mulheres. Esse é o objetivo da ferramenta, é trazer mais mulheres pra luta, unidas.”, explicou Laíssa.

Este encontro foi o primeiro de uma luta partilhada que agora será retratada e compartilhada através de costuras e bordados que serão realizados no próximos meses. “No próximo encontro espero mais atingidas e que todos nossos sentimentos possam estar nos nossos bordados. Espero mais descobertas. Estar juntas é a melhor maneira para construirmos o futuro”, confidenciou a atingida C.J..