Comunidades dos Povos Pataxós e Pataxós Hã-Hã-Hãe recebem visita de ATIs
A visita ocorreu em duas comunidades indígenas atingidas pelo rompimento da Vale e que lutam na busca por Justiça, Reparação e Reconstrução de seus projetos de vida

Comunidade indígena da Aldeia Naô Xohã Paraopeba – Foto: Felipe Cunha | Aedas
No dia 23 de janeiro, semana que marca o quinto ano do rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão em Brumadinho, a Aedas participou da caravana territorial em direção às comunidades dos povos Pataxó e Pataxó Hã-Hã-Hãe, situadas em São Joaquim de Bicas. Estas comunidades fazem parte da Região 2 da Bacia do Paraopeba e foi atingida pelo desastre-crime da barragem da Vale.
A caravana foi organizada pela Assessoria Técnica Independente dos povos Pataxó e Pataxó Hã-Hã-Hãe, também conhecida como Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável (INSEA), que convidou a Aedas, outras organizações e pessoas atingidas das 5 Regiões da Bacia do Paraopeba e Lago de Três Marias para se juntar à iniciativa.
Para fortalecer a defesa dos povos indígenas do Paraopeba, também estiveram presentes representantes do Ministério Público Federal (MPF), da Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais (DPMG), representantes do Instituto de Direitos Humanos (IDH) e do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH), Instituto Guaicuy, Nacab, Movimento Participa Paraopeba, Rede dos Atingidos pela Vale da Região 3, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), professores e pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Pró-Reitoria de Extensão da PUC Minas, Instituto de Estudos do Desenvolvimento Sustentável (IEDS), assessores parlamentares da Deputada Estadual Bella Gonçalves (PSOL), assessor parlamentar da deputada estadual Leninha (PT), a Deputada Federal Célia Xakriabá (PSOL), Comitê Pró-Brumadinho, indígenas de outros territórios da Bacia do Paraopeba e vários outros/as atingidos/as e apoiadores/ras.

Comunidade indígena da Aldeia Naô Xohã Paraopeba – Foto: Felipe Cunha | Aedas
A proposta da caravana, conforme explicado pelo INSEA, foi “conhecer um pouco, ouvir as histórias, memórias e situação dos povos indígenas atingidos, 5 anos após o rompimento. A concepção de caravana envolve atravessar juntos perigos e momentos difíceis, unindo-se para superar o momento que estamos vivenciando”.
Comunidade indígena da Aldeia Naô Xohã Paraopeba
Pela manhã, a visita foi realizada à Aldeia Naô Xohã Paraopeba, liderada pelo Cacique Sucupira, em São Joaquim de Bicas. Durante essa visita, ocorreu uma roda de conversa enriquecedora e de uma apresentação cultural que abordou as memórias do atingimento e a jornada marcada pela resistência e a esperança que prevalece.

Cacique Sucupira junto à Deputada Federal Célia Xakriabá (PSOL), à margem do rio Paraopeba | Fotografia por Felipe Cunha – Aedas
O Cacique Sucupira relatou: “Precisamos ter contato com Hahãu (terra em pataxó), e isso nos foi tirado. A criação desta comunidade por minha família Pataxó e Pataxó Hã-Hã-Hãe foi uma decisão de deixar a cidade devido à truculência e ao preconceito que enfrentávamos. Não permitiremos que nossa língua e tradição se percam. Estamos determinados a preservar até o fim, enquanto houver um povo indígena nesta terra, neste território tradicional chamado Brasil. Resistimos a cada dia, enfrentando danos ao meio ambiente e massacres. Somos nós que garantimos a floresta em pé, os córregos e as nascentes. Pedimos por Justiça. Que as Instituições de Justiça façam valer nossos direitos e que está na Constituição.”
Comunidade indígena da Aldeia Katurãma

Apresentação na Comunidade indígena da Aldeia Katurãma – Foto: Felipe Cunha | Aedas
Durante a tarde, a caravana se direcionou à Aldeia Katurãma, liderada pela Cacica Ãngohó e pelo Vice Cacique Hayô, também em São Joaquim de Bicas, e contou com uma significativa roda de conversa e uma expressiva apresentação cultural que destacou a educação como alicerce na luta indígena.

Cacica Ãngohó – Foto: Felipe Cunha | Aedas
A Cacica Ãngohó ressaltou que são guardiões da mata “Não aceitamos que a natureza seja explorada pois para nós ela é sagrada. O nosso território é o local de onde tiramos parte do nosso sustento (…) É onde podemos viver segundo os nossos costumes tradicionais, onde cultivamos nossas plantas para a medicina tradicional, em conexão com o sagrado: a água, a terra, os animais, o culto aos nossos ancestrais, nossos Naô e nosso Txopai (primeiro indígena Pataxó na Terra). É onde criamos nossos filhos, repassando nossa cultura, tradições, e onde honraremos nossos antepassados.”
Os povos indígenas ressaltaram que através da agricultura, da caça, da pesca, do artesanato e do etnoturismo é que garantem seu sustento e que, com o rompimento da barragem da Vale S.A, tudo foi comprometido.
As duas comunidades indígenas atingidas pelo desastre-crime estão na luta por Justiça, Reparação e Reconstrução de seus projetos de vida.
A presença dos povos indígenas deve ser respeitada, protegida e garantida pelo Estado!
Manifestamos toda a nossa solidariedade ao povo Pataxó Hã-Hã-Hãe.
Veja mais fotos na galeria












Texto e Fotografias: Felipe Cunha | Aedas
Veja as coberturas dos eventos da semana que marca os 5 anos do rompimento da barragem da Vale, ocorrido em 25 de janeiro de 2019, em Brumadinho