“Depois da mineração, a energia do nosso território mudou. Ficou mais seco, árido. Ficou triste”, disse Mãe Érica.

Sem perder a fé em Olorum, Mãe Érica d’Oxossi, zeladora de orixá e mãe de santo, nasceu em Belo Horizonte e lidera, há 14 anos, juntamente com sua corrente, o terreiro de Umbanda Tenda Espírita Cabocla Janaína, em São Joaquim de Bicas. Juntos, empenharam-se na construção de um templo sagrado com portas abertas para a rua.

“Aqui é a casa da comunidade. Recebo pessoas durante toda a semana: idosos, pessoas com deficiência, com saúde mental adoecida, crianças e mulheres”, destaca Mãe Érica.

No entanto, parte da estrutura de seu terreiro está comprometida e correndo risco de ceder. Essa situação se intensificou ao longo do tempo, tornando-se uma fonte de ansiedade para os membros da comunidade e para aqueles que frequentam o local.

Os problemas estruturais no terreiro começaram devido aos impactos causados pelo maquinário pesado e obras para pavimentação das ruas. A vibração e as movimentações intensas causadas por essas atividades externas resultaram em fissuras, rachaduras e deslocamentos em várias partes da estrutura, comprometendo sua integridade e segurança.

A necessidade de intervenção urgente torna-se evidente, pois a preservação do terreiro não é apenas uma questão de patrimônio físico, mas também de preservação cultural e religiosa para a comunidade envolvida.

“Ventilou-se que as mineradoras haviam firmado contrato com a prefeitura para asfaltar o bairro, mas as consequências foram desastrosas. Atualmente, convivemos com o medo de que parte do terreiro desabe.”

Hoje, com o apoio da Aedas, Mãe Érica luta pela integridade estrutural do terreiro, acionando as Instituições de Justiça e órgãos responsáveis, buscando garantir a segurança do local e manter as portas abertas para a comunidade.

“Nossa reivindicação é por reparação. Isso é o mínimo! Queremos melhorias para que ninguém corra riscos frequentando aqui, e para que o terreiro permaneça acessível à comunidade. Não posso deixar de receber meus consulentes.”

Em relação ao rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, Mãe Érica destaca.

“Temos uma cidade com um rio próximo [Paraopeba] que costumávamos ir a pé, com diversos pontos de força para nossos rituais e busca de energias. Contudo, a mineração devastou o rio e a maioria das matas ao redor, conhecidas como macaia, locais de nossas práticas de umbanda.”

Não havendo mais macaia por perto, Mãe Érica tem que ir à outra cidade para realizar seus trabalhos. 

“Sinto essa ausência de pontos de força. A espiritualidade e as forças ativas da natureza precisarão trabalhar intensamente para reverter essa situação. O impacto não é apenas físico, é espiritual. Um crime de irresponsabilidade, um crime previsto, que me impede de cumprir minhas obrigações como mãe de santo dentro da cidade.”

Sobre sua ligação com a natureza, Mãe Érica relata:

 “Se eu perder meu axé eu morro. Se eu não tiver a força ativa do meu orixá, eu perco minha energia. Eu coexisto com a natureza. Tenho que ir para outra cidade com água limpa e energizada, sendo que tinha em abundância aqui. Eu dependo da natureza e de seus elementos para me limpar e limpar os meus.”

Texto e fotos: Felipe Cunha | Aedas


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