A deputada estadual Bella Gonçalves ouviu os moradores da comunidade e conheceu o antigo sistema de abastecimento 

A comunidade do Tejuco, em Brumadinho, recebeu ontem (27) a visita da Deputada Estadual Bella Gonçalves, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). Além da deputada, participaram da visita dois assessores do seu mandato, moradores e moradoras da comunidade e os representantes da Associação Estadual de Defesa Ambiental e Socias – Aedas: Camila Magalhães, coordenadora da equipe Socioambiental, Kalahan Battiston, técnico da equipe Socioambiental e Kayene Garcia, mobilizadora. 

A visita teve como objetivo conversar sobre os encaminhamentos da audiência pública “A restrição de acesso à água das nascentes na comunidade do Tejuco, município de Brumadinho: o direito humano de acesso à água potável” realizada no dia 19/04/23 na ALMG. 

O presidente da Associação de Defesa Ecológica da Serra dos Três Irmãos, Evandro de Paula, recebeu todos/as na sede da associação. Durante o espaço, as pessoas atingidas presentes falaram sobre os diversos danos que o Tejuco vem sofrendo após o rompimento e com a continuidade da mineração na comunidade. Elas também denunciaram a falta de diálogo das mineradoras e a não participação no “Quarto Termo Aditivo ao Termo de Compromisso Água” assinado, em 17 de janeiro de 2022, pelo Governo do Estado de Minas Gerais, o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), a Defensoria Pública do Estado (DPE), a COPASA, a Vale S.A., AECOM e a Prefeitura de Brumadinho.  

O termo define a entrada da Copasa para a solução do abastecimento de água potável na comunidade, que foi interrompido no dia 05 de dezembro de 2020 pela Vale S.A., depois da má manutenção no sistema de drenagem da estrada que liga a Mina do Córrego do Feijão ao Tejuco, reaberta em 2019 para prestar socorro às vítimas do rompimento. Segundo os moradores, a Vale S.A. não apenas interrompeu o sistema de abastecimento da comunidade, como assoreou e contaminou os reservatórios e a caixa d’água coletiva, as caixas d’água familiares e entupiu a rede de distribuição de água, problemas que até hoje não foram resolvidos. 

“Toda a vida essa água nos abasteceu, desde a época do meu pai, da minha mãe e dos meus avós, todo mundo usava essa água. Nós nunca pagamos água no Tejuco. Hoje todos teríamos condição de pagar pela água, porque a Vale tá pagando (PTR), mas quem vai garantir que a Vale vai pagar para o resto da vida? Nós nunca pagamos água, por que vamos pagar agora? Pelo que eu sei, aqui muita gente não vai ter condição de pagar por ela.”, ressaltou Marlon morador do Tejuco. 

A deputada, Bella Gonçalves destacou o fato de que, para uma empresa minerar em um determinado território, é preciso apresentar um estudo dos danos, assim como, uma contrapartida para a comunidade.  

Lideranças entregam documentos à deputada 

A comunidade entregou à equipe da parlamentar documentos de denúncia sobre a disposição de rejeito na Cava da Mina do Córrego do Feijão e os estudos desenvolvidos pela Aedas na área do Manancial de Abastecimento (utilizado antes das intervenções da Vale.S.A.), são eles:  os resultados da consultoria de “Diagnóstico de Danos e Impactos Relativos aos Aspectos Ambientais” e o “Relatório de Campo: Medição Estimada de Vazão do Curso d’água da Microbacia da Área do Manancial de Abastecimento do Tejuco”.   

Bella Gonçalves acolheu a demanda e comungou, com a comunidade, a preocupação sobre o lançamento de rejeito na Cava da Mina do Córrego do Feijão, onde já foram dispostos mais de 480 Mil m³ de rejeito, com grande potencial de contaminação das águas subterrâneas da região, colocando em risco a saúde das diversas famílias que vivem abaixo da Serra dos Três Irmãos.  

As lideranças reafirmaram para a parlamentar que o maior desejo da comunidade é a recuperação das nascentes e o retorno da autogestão no abastecimento com uso do manancial, sem prejuízo do sistema de saneamento. 

“A água pra gente é sagrada!” destacou Zizinha, moradora de Tejuco e integrante da Associação de Defesa Ecológica da Serra dos Três Irmãos. A liderança ainda falou com indignação sobre a responsabilidade da Vale S.A em relação ao abastecimento da água: “A Vale que tem que tratar da nossa água! Nós não temos que pagar água não. Quem veio nos incomodar foi a Vale. Ela que se vire pra tirar a nossa água lá da Mina e colocar naquela caixa. Não é trazer de Brumadinho não! Nós já temos a nossa água. Invés de puxar a água de baixo pra cima, ela tem que puxar de cima pra baixo!”. 

Visita guiada ao antigo sistema de abastecimento 

Após o diálogo na sede da Associação, foi realizada uma caminhada guiada pela comunidade para conhecer todo o sistema de abastecimento que era utilizado antes da intervenção da Vale S.A. em 2020. Os pontos visitados foram: a caixa d’água comunitária que, como medida emergencial, ainda é abastecida por caminhões pipa; a “Estrada da Mineral”, onde há uma horta linda, mas está ameaçada de desaparecer, pois a área foi vendida recentemente para Mineral do Brasil; o reservatório secundário de água (cerca de 700m³) que era utilizado como complemento ao sistema principal nos períodos de estiagem e que hoje está totalmente assoreado, com adensamento de vegetação; a caixa de sedimentação da estrada; a área do manancial de abastecimento, nos pontos do Reservatório Principal, e finalizou no Sistema de Medição de Vazão por Vertedor Triangular de parede Delgada. No caminho entre os reservatórios, foram notadas umas pilhas de estéreo colocadas no meio de uma área que seria de mata, bem próxima aos reservatórios. Os moradores demonstraram surpresa, pois segundo relato, não havia esse material depositado ali. 

Evandro de Paula avaliou que a visita foi de grande importância para a comunidade, uma vez que puderam “relatar vários problemas das mineradoras e criar a denúncia junto a deputada” e afirmou que os moradores esperam obter êxito a partir dessa ação.  

Texto: Camila Magalhães (Coordenação SAM), Kalahan Battiston (Técnico AT – SAM) e Kayene Garcia (MOB)
Edição: Elaine Bezerra