Ao longo do século XX, o mês de março foi marcado por diversas manifestações de luta por direitos e organização política das mulheres ao redor do mundo.

A história do Dia Internacional das Mulheres atravessa desde a organização das mulheres trabalhadoras russas, que, em 1917, marcharam com o lema “Terra, Pão e Paz” contra a fome e pelo fim da I Guerra Mundial, até o movimento de mulheres operárias norte-americanas que inspiradas pelas russas, reivindicavam direitos trabalhistas e igualdade salarial.  É, no entanto, no ano de 1910, durante a II Conferência Internacional das Mulheres, em Copenhague, na Dinamarca, que se propõe que as trabalhadoras de todos os países organizassem um dia especial de luta das mulheres. A data foi estabelecida no dia 8 de março, porém só foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1975.  

Em muitos países já existiam movimentos de mulheres e manifestações por diversos direitos. Entre eles, destacamos a luta para a regulamentação do casamento e do divórcio, pelo direito de frequentar escolas e exercer ofícios e profissões, o direito à herança e bens de família e à participação em associações políticas e sindicais. Mas a luta pelos direitos políticos e o voto feminino, encabeçado pelo movimento sufragista a partir do século XIX, colocou em evidência as reivindicações das mulheres, considerando que votar e ser votada são instrumentos fundamentais para a conquista dos demais direitos.

No Brasil, as mulheres tiveram uma atuação essencial, desde a luta pela redemocratização do país, contra a carestia, pelo acesso aos documentos pessoais e profissionais, direito à educação e ao trabalho.  

É importante destacar que ao longo do tempo assistimos grandes mudanças sociais que garantiram maior participação social das mulheres nos mais diversos espaços.

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Vídeo: protagonismo das mulheres atingidas do Paraopeba na luta pela reparação integral

A luta por reparação integral

Na luta pela reparação integral não é diferente. Por isso, o Dia Internacional da Mulher tem um papel central no processo de pensar as questões de gênero articuladas à luta por direitos e as denúncias das violações sofridas diante da crise socioambiental decorrente da atividade minerária.  

Na Bacia do Paraopeba, o rompimento da barragem na Mina Córrego do Feijão, de propriedade da empresa Vale S.A ,  representou um aprofundamento das desigualdades entre homens e mulheres nos territórios atingidos.  As mulheres têm relatado aumento do trabalho doméstico e de cuidados – o que inclui o cuidado com pessoas doentes, crianças, idosos, alimentação e limpeza da casa – danos à saúde, moradia, aumento da violência, perda dos espaços de lazer, entre outros. Ao mesmo tempo, as mulheres têm desempenhado um papel central no processo de luta pela reparação integral, garantindo que fique demarcado que sem a participação das mulheres não há reparação. Nos constantes diálogos e construções com a população atingida, as mulheres são protagonistas dos espaços participativos, garantindo que as demandas dos territórios sejam ouvidas com atenção. 

A partir de uma perspectiva interseccional, ou seja, que leva em conta o cruzamento do gênero, raça e classe das atingidas, verificamos que em sua grande maioria essas mulheres são racializadas a partir da negritude e pertencem a classes sociais marcadas pela pobreza. Nesse sentido, sua vulnerabilidade se agrava e é por esse motivo que garantir a equidade de gênero nos espaços participativos deve ser uma prioridade. Desastres sociotecnológicos dessa magnitude deixam evidente que as mulheres sofrem danos específico, portanto, é necessário que uma reparação que se pretende integral leve em conta essas particularidades. 

Somado a esse contexto, as cheias e enchentes que ocorreram na Bacia do Paraopeba ampliaram ainda mais os danos sofridos pelas mulheres. Além do risco de contato com os rejeitos depositados no rio, as mulheres vivenciaram uma sobrecarga de trabalho, sobretudo ligado a limpeza, desinfecção e reorganização do espaço. Foram inúmeros relatos de danos à moradia, deslocamento compulsório, desalojamento, perda de bens pessoais, danos à agricultura e animais. Mais uma vez, os sonhos e modos de vida foram interrompidos e as mulheres foram obrigadas a reviver os danos sofridos.  

É diante desse cenário que nós, da Equipe da Monitoramento de Gênero, bem como, todas as mulheres que compõe a Assessoria Técnica da da AEDAS, nos somamos em solidariedade e compromisso com as mulheres atingidas. Preparamos inúmeros materiais de comunicação sobre a luta das mulheres e gostaríamos de convidar toda a população para acompanhar as nossas redes neste mês de março. A história nos ensina que os direitos das mulheres no mundo só foram concretizados e reconhecidos pelo empenho de organização, formação e luta das mulheres. Nada aconteceu ou surgiu do nada, mas foram fruto de dias e noites de debates, de processo de formação, de acúmulo prático e teórico para constituição do que temos até aqui como direitos reconhecidos pela legislação brasileira., porém muitos direitos ainda são violados na vida das mulheres, especialmente das mulheres atingidas da Bacia do Paraopeba, e é por reparação digna e justiça que elas gritam e lutam todos os dias!