Cavalgada une Comunidades de Brumadinho em Festa no Parque da Cachoeira
A festa reuniu mais de mil pessoas de Brumadinho e região

No último domingo, 4 de agosto, ocorreu a 2ª Cavalgada do Parque da Cachoeira, em Brumadinho. O evento começou com a concentração na praça da Igreja Matriz do Tejuco, uma comunidade vizinha, que serviu como ponto de encontro para os participantes. A cavalgada percorreu aproximadamente 2 km até o Parque da Cachoeira, terminando em uma festa na sede da Associação Comunitária dos Bairros Parque do Lago, Parque da Cachoeira e Alberto Flores (ACOPAPA).
No horário previsto para a concentração, cavaleiros, amazonas e comitivas de diversas localidades de Brumadinho e região começaram a chegar. Ao todo, participaram mais de oito comitivas e pessoas atingidas de várias comunidades de Brumadinho: Córrego Ferreira, Aranha, Tejuco, Melo Franco, Córrego do Barro, Monte Cristo, Bom Jardim e dos municípios de Mário Campos, Igarapé, Sarzedo, Belo Horizonte, Contagem e até São Paulo.
As comitivas são agrupamentos de pessoas (cavaleiros e amazonas), muitas vezes uniformizadas de acordo com seu grupo. Elas participaram montadas a cavalo no trajeto desde a concentração no Tejuco até o espaço da festa.
A cavalgada foi o primeiro evento realizado pela Associação ACOPAPA na atual gestão, que se iniciou em 4 de abril de 2022. Segundo Vanessa Cristiane, presidenta da Associação, “Foi uma festa organizada com muito amor para trazer entretenimento à nossa comunidade, que vem passando por várias mudanças, intercorrências e impactos após o rompimento. Trazer esses momentos de cultura e lazer, depois de tanto tempo sem poder realizar eventos de cultura local, foi muito importante. No ano passado, não conseguimos realizar a cavalgada porque a data escolhida também foi destinada à realização da cavalgada da Igreja Matriz do Tejuco (Cavalgada de Nossa Senhora das Mercês) em setembro. Então, este ano decidimos nos organizar para a 2ª Cavalgada da Associação do Parque da Cachoeira”.
















Na festa estiveram presentes os músicos Jean Moraes, Jéssica Zimbra e Marcelo Leal, com participação especial de Laurinha do Berrante, de apenas 12 anos. Houve sorteio de brindes e produtos das barraquinhas, além do sorteio de um potro.
Expositores, cozinheiras e artesãos locais também compartilharam seus conhecimentos, incluindo o churrasco de chão, pastéis fritos na hora, canjica grossa e bebidas. Nas barraquinhas, havia uma variedade de artesanatos, como tapetes de tecelagem feitos à mão, crochê, bordados, produtos feitos com reciclagem de pneus e artesanato reciclado em papel e madeira.

Maria de Lourdes (Lurdinha), do Parque da Cachoeira, que expôs sua barraquinha na festa e vendeu seus tapetes, falou sobre a importância do evento: “A festa é muito boa para todo mundo se reunir e fortalecer o lugar, que ficou muito prejudicado com o rompimento e que estamos tentando ‘consertar’”.
O principal objetivo do evento foi promover a união entre as comunidades de Tejuco, Parque da Cachoeira e outras áreas de Brumadinho, além de impulsionar a geração de renda e o turismo na região. Os organizadores destacaram a importância de momentos como este para fortalecer os laços entre os moradores e criar oportunidades econômicas locais. Eles também enfatizaram a necessidade de valorizar o senso de pertencimento e aumentar a visibilidade e credibilidade da comunidade com apoiadores que possam contribuir para melhorias na infraestrutura.
Para Soraia Campos, colaboradora da Associação, a Cavalgada “Foi uma festa de família com muitas crianças se divertindo. Tudo seguro e muito bem organizado pela associação de moradores”.
Soraia também complementa: “Esta cavalgada foi criada em um momento de tristeza e solidão no Parque da Cachoeira. Ninguém saía mais no Parque, e junto com a ACOPAPA, nos reunimos para organizar a primeira cavalgada. Foi um sucesso e uma alegria ver nossa comunidade reunida”.
Heloisa Pimentel, participante da Cavalgada, e proprietária de imóvel no Parque da Cachoeira, compartilhou sua opinião sobre o evento: “A 2ª Cavalgada do Parque da Cachoeira realizada ontem foi sem dúvida uma demonstração de amor, cuidado e carinho da comunidade pelo Parque da Cachoeira. Receber as comitivas vizinhas, a comunidade local e os visitantes das mais diversas localidades nos encheu de orgulho e indica que estamos no caminho certo. O Parque vive! Para nós do Parque da Cachoeira, foi muito importante a realização desse evento principalmente pelo número elevado de participantes que escolheram estar conosco neste lugar e não em outro. Isso fez toda a diferença. Que venha a próxima Cavalgada!”.
Ela também comentou sobre seu prazer em montar a cavalo: “Montar um cavalo para mim é um dos maiores prazeres. Participar de cavalgadas além de terapêutico é certeza de diversão garantida, afinal toda cavalgada traz muitas histórias e “causos” que ficam marcados para sempre em nossas memórias. E são essas memórias que nos permitem continuar a nossa caminhada que, por muitas vezes, é marcada por situações desafiadoras e tristes”.






Vanessa falou sobre o futuro dos eventos: “Nossa visão é que os eventos da associação continuem crescendo em escala e qualidade, oferecendo cada vez mais entretenimento e lazer ao nosso público. Esperamos que, a cada nova edição, possamos contar com a participação de mais pessoas e que a qualidade dos eventos melhore continuamente”.
Para Maria Aparecida (Paré), do Tejuco, organizar eventos culturais após o rompimento apresenta muitos desafios. Segundo ela: “Antes era muito mais fácil; já sabíamos a época certa para tudo. Depois do rompimento, ficamos um tempo sem realizar nada, e então veio a COVID. É uma luta tentar organizar, retomar e inovar. É uma caminhada que ainda está engatinhando. Tejuco e Parque da Cachoeira ficaram mais unidos depois da tragédia, assim como outras comunidades, como Monte Cristo, Pastorinha e Córrego Fundo. Isso é muito bom para as pessoas que gostam de se aventurar em cavalgadas e para atrair outras pessoas de fora de Brumadinho, fomentando a região”.
Vanessa também comentou sobre as expectativas dos organizadores: “Esperávamos um número maior de participantes em comparação com eventos anteriores da Associação ACOPAPA, estimando cerca de 400 pessoas. No entanto, ao contar as pulseiras distribuídas na portaria, tivemos uma surpresa: 1.000 pessoas! Isso me deixou muito feliz e trouxe um sentimento reconfortante de que estamos no caminho certo para construir uma nova história. Foi extremamente gratificante abrir as portas ao diálogo e às parcerias com o Parque da Cachoeira e com aqueles que acreditam no nosso trabalho e no potencial da comunidade”.
A cavalgada e a festa foram organizadas sem fins lucrativos, com organizadores e apoiadores trabalhando de forma voluntária.
A Luta pela Reparação
O Parque da Cachoeira e o Tejuco são comunidades situadas na região conhecida como Zona Quente de Brumadinho, localizada no epicentro do desastre-crime de responsabilidade da Vale. Essas comunidades têm lutado pela reparação integral desde 2019 e pelo resgate e fortalecimento de seus modos de vida.
O rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão resultou em alterações de diferentes intensidades nessas comunidades, acumulando danos de diversas ordens. Isso se traduz na ruptura do vínculo dos moradores com o território e em uma vulnerabilização extrema, abrangendo danos à moradia e à infraestrutura pública, danos à saúde, danos socioambientais, danos ao patrimônio cultural, à cultura, lazer e esporte, danos à economia, trabalho e renda, danos à educação e aos serviços socioassistenciais.
Vanessa ressaltou “Temos um cenário de imóveis adquiridos pela Vale, mas também muitos moradores que não foram embora e várias construções novas e terrenos adquiridos por novos moradores que chegam com o intuito de reescrever uma nova história. A comunidade precisa, sim, de apoio para reconstruir essa nova história e fazer parte da rota do turismo, geração de renda, cultura e lazer. A união da comunidade em prol disso fortalece o pertencimento e os laços comunitários, trazendo uma virada de chave para um olhar esperançoso para um futuro melhor para os moradores”.
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Fotos e texto: Felipe Cunha | Aedas