Fevereiro marca os dois anos do acionamento do PAEBM da ArcelorMittal em Itatiaiuçu e famílias atingidas ainda esperam a reparação integral

No dia 8 de fevereiro completou dois anos do acionamento do Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM) da ArcelorMittal em Itatiaiuçu e os atingidos e as atingidas ainda esperam pela reparação integral. A Assessoria Técnica da Aedas, que acompanha as famílias atingidas no município, construiu com a participação de atingidos e atingidas a Matriz de Danos e a primeira etapa do Plano de Reparação Integral dos danos sofridos.

Os documentos foram entregues para a mineradora e estão em análise pela empresa. Está acordado que até 05 junho de 2021, seja assinado o Termo de Acordo Complementar, sob coordenação das Instituições de justiça que contemple todo o Plano de Reparação Integral dos danos individuais sofridos em razão do acionamento. As negociações vão continuar durante este período.

Para a atingida Eliana Teles Lopes, da comunidade de Pinheiros, a vida depois destes dois anos de acionamento ainda é de angustia e problemas financeiros. “Ainda tenho muita angustia, insegurança, medo e passando por dificuldade financeira. A Arcelor é a maior culpada por todos estes danos”. Mas Eliana ainda tem esperança e confia que este ano a reparação integral chega: “me sinto com esperança de que a reparação vai sair e que a Assessoria vai continuar nos acompanhando neste processo”.

O atingido Marcio da Piedade de Souza, de Pinheiros, afirmou que nestes dois anos pouca coisa mudou e que não será fácil conseguir um acordo justo para todos, mas tem esperança na reparação. “Estou esperançoso que vamos conseguir mudar a cabeça das autoridades para promover a justiça para todos. Não pedimos para estar nesta situação triste e infelizmente perdemos muitos amigos, que sequer verão este dia de reparação, mas esperamos que a luta deles e a nossa não seja em vão”, finalizou.

Já a atingida Arlete Custódia Ferreira, destacou que desistir não está nos planos: “ desistir não faz parte de pessoas sonhadoras, a gente não pediu para tá passando por isso, não estamos tirando proveito de nada, somos atingidos e quem manda na comunidade somos nós, não somos mercadorias que podem chegar aqui e fazer o que querem. Vamos continuar lutando pela reparação”.

Atingidos e atingidas

Dentro da zona de autossalvamento (ZAS), estão 205 núcleos familiares que declararam sofrer danos e ter terrenos dentro da ZAS. Desses 205 núcleos familiares, 84 núcleos familiares foram desalojados. Tiveram que sair de suas casas e estão morando em casas alugadas pela ArcelorMittal. Em sua maioria são caseiros(as), proprietários e moradores(as).

Os sitiantes, com terrenos na ZAS estão impossibilitados de usar a propriedade, mas não foram desalojados porque não moravam no local. A assessoria já cadastrou mais de 655 núcleos familiares, 205 dentro da ZAS e 450 fora das ZAS alcançando mais de 2200 pessoas atingidas em Itatiaiuçu.

No dia que marcou estes dois anos de lama invisível, as comunidades atingidas apresentaram suas pautas de reivindicação à empresa ArcelorMittal para que tenha agilidade no atendimento dos pedidos, além do reconhecimento de toda a comunidade como atingida. Alguns pontos que as comunidades destacam são:

– Reparação integral de todos os atingidos.

– Celeridade na aceitação da matriz de danos e início das indenizações.

– Manutenção digna dos terrenos da ZAS.

– Ações emergenciais para comerciantes e moradores das comunidades atingidas.

– Manutenção do auxílio emergencial como não-indenizatório por mais um ano.

– Que acionamento do PEABM não sirva de moeda de troca para adquirir nossos terrenos.

– Respeito à vontade e demandas dos atingidos.

– Sem passagem de transportes ou maquinários pra construção do Dique pela Comunidade de Lagoa das Flores.

Acionamento

As comunidades de Pinheiros, Vieiras e Lagoa das Flores sofreram alteração no seu modo de vida no dia 08 fevereiro de 2019, quando foi acionado o Plano de Ação da ArcelorMittal devido ao risco de rompimento na barragem Mina de Serra Azul. Diversas famílias foram enviadas para um hotel em Itaúna e depois realocadas em casas alugadas pela mineradora. No ano de 2021 cumpriu dois anos de vida provisória, dois anos de lama invisível, dois anos de espera pela reparação integral.