Pedal uniu centenas de pessoas em uma corrente de solidariedade que também cobrou justiça, encontro e não repetição

O brilho das 272 vítimas fatais, chamadas carinhosamente de joias pelos familiares, ecoou novamente pelas ruas de Brumadinho neste domingo, dia 22 de janeiro. Às vésperas dos 4 anos do rompimento, familiares e ciclistas se reuniram no pedal Memory Day (Dia da Memória), que prestou homenagens e cobrou Justiça, Memória e Encontro das vítimas fatais do rompimento da Mina Córrego do Feijão, em janeiro de 2019. Três pessoas ainda não foram encontradas. 

A atividade é uma realização da Avabrum (Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos da Tragédia do Rompimento da Barragem Mina Córrego Feijão Brumadinho) em parceria com os Pedalantes Mário Campos. As inscrições para o pedal arrecadaram fraldas para instituições de apoio a famílias em situação de vulnerabilidade. 

Dos centenas de ciclistas inscritos no Memory Day, 272 deles levaram placas nas bicicletas com os nomes de todas as vítimas fatais do rompimento, incluindo as duas que não chegaram a nascer pois duas vítimas estavam grávidas. 

“É um dia muito importante de honra e homenagem a eles, mas também um grito por justiça. Quase quatro anos, a justiça ainda não veio. Ninguém foi preso, nenhuma empresa responsabilizada. Nós aguardamos isso também. O que os familiares querem muito é os culpados presos e a responsabilização das empresas”, contou Alexandra Andrade, presidente da Avabrum. 

O pedal foi um momento de homenagem e conexão das famílias com a memória de seus entes queridos. Alexandra contou que seu irmão, Sandro Andrade, que perdeu a vida no rompimento, era ciclista e estampava fotos dos seus pedais nas redes sociais.  

“Várias vítimas eram ciclistas, gostavam de andar de bicicleta nas horas vagas. Meu irmão era. Hoje estou indo com o capacete dele, o óculos dele e a bicicleta dele”, disse a familiar que agradeceu a empatia dos ciclistas que participaram do pedal. 

Cada nome, inúmeras histórias interrompidas 
Rafael Braga levou a camisa com a foto do cunhado, Rodrigo Monteiro, uma das 272 vítimas fatais. Foto: Valmir Macêdo/Aedas

Rafael Braga pedalou levando o nome do cunhado, Rodrigo Monteiro. Para ele, a homenagem foi um momento tocante de rememorar a história do Rodrigo e todo o seu significado na vida de seus familiares. 

“Nada vai apagar o que aconteceu com eles, mas a gente poder fazer qualquer tipo de homenagem para eles, principalmente para o Rodrigo, que era meu cunhado, uma pessoa que amava a vida. Isso não foi nada de tragédia, foi um crime. Várias histórias foram interrompidas, mas como com o Rodrigo a gente teve um contato mais próximo, é onde toca muito. Falar dele, poder sempre lembrar dele, é o que fica”, contou. 

Momento da entrega das medalhas aos ciclistas. Ao receber a medalha, uma flor era entrege e fixada no letreiro 272, simbolizando cada vítima. Foto: Valmir Macêdo.

A ciclista Ana Rita veio de Belo Horizonte. Ela faz parte do Grupo BH Sabará e falou do valor simbólico do pedal em Brumadinho em homenagem às 272 vítimas fatais.  

“Outras vezes a gente vai competir, e agora não, a gente vai ajudar e poder promover para que as pessoas sintam essa emoção. Cada um (vítima fatal) representa o amor de alguém. A gente se emociona por isso, porque é muito importante cada pessoa para cada um. A gente às vezes esquece disso e eu acho que num momento como esse a solidariedade fala mais alto”, contou. 

Uma estreia que vai ficar marcada 

A ciclista Jhenyfer Isabelle é de Sarzedo e estreou no seu primeiro pedal de um jeito emocionante. Ela levou a placa da Marcelle Porto. “Foi uma experiência muito boa, aqui na minha primeira prova. Senti a emoção do pessoal, todo mundo unido na vibração. Foi uma experiência muito boa, com certeza vai ficar marcada pro resto da minha vida”, revelou.  

Pela memória e não repetição 

Alexandra Andrade, presidente da Avabrum, reforça o sentido do Memory Day e da cobrança por justiça, encontro e memória, palavras-chave do evento e da luta dos familiares. 

“A Avabrum ela luta por justiça, pelo encontro de todas as joias. Nós ainda temos três joias a serem encontradas: que é a Maria de Lurdes, a Natália Porto e o Tiago. E as famílias ainda aguardam para o alento do sepultamento. Lutamos também pela memória, para que eles não sejam esquecidos, hoje o Memory Day é sobre isso. E também para não repetição, para que mais pessoas não percam suas vidas por irresponsabilidades de empresas e que mais famílias também não passem pelo que nós estamos passando”, afirmou.  

A programação em memória e luta por justiça nos 4 anos do rompimento continua esta semana. Confira a programação: 

23 de janeiro – terça-feira 

10h – Ato pelos Rios, Pelas Águas e Pela Vida! 

(São Joaquim de Bicas) Organizado pelo Movimento dos Atingidos por Barragem MAB 

24 de janeiro – terça-feira 

8h – 17h – Seminário Cidades Impactadas pela Mineração (Faculdade Asa), realização da Avabrum 

17h – Carreata por Justiça (Concentração Cemitério Parque das Rosas) , realização da Avabrum 

25 de janeiro – quarta-feira 

IV Romaria pela Ecologia integral em Brumadinho   

7h – Acolhida (Matriz de São Sebastião)  

8h – Coletiva de Imprensa e abertura do stand do projeto Juntos por Brumadinho 

9h – Missa   

10h30 – Caminhada (da Matriz até o Letreiro)  

12 – Ato por justiça, encontro e memória (Letreiro de Brumadinho)  

Atos em Belo Horizonte   

9h – Ato Indenização Justa Já! (Tribunal de Justiça – Raja Gabaglia, Belo Horizonte).  
  
14h – Ato pela reparação integral dos crimes das Bacias do Rio Doce e Paraopeba  

ALMG – Belo Horizonte 

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